ANTONIO TEMÓTEO
A onda de violência que assola o país também preocupa o mercado financeiro. O aumento do número de ataques a bancos cresceu 19% no ano passado em relação a 2016, conforme dados da Confederação Nacional de Trabalhadores de Segurança Privada (Contrasp). Foram registrados pelo menos 2,4 mil casos de explosões, arrombamentos ou assaltos a instituições financeiras no país, de acordo com o levantamento apresentado pelo diretor de Meios de Pagamento do Banco do Brasil, Rogério Panca, durante o 12º Congresso de Meios Eletrônicos de Pagamento (CMEP).
A situação é ainda mais preocupante quando são analisadas as ocorrências com uso de explosivos, que representaram 38% do total dos registros de 2017. No estado de São Paulo foram registrados 430 ataques a bancos, dos quais 124 explosões e 141 arrombamentos. Minas Gerais é o segundo ente da Federação com mais casos: 423. Desse total, 199 tiveram uso de explosivos e outros 100 foram arrombamentos. Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco, Paraíba, Rio de Janeiro, Bahia, Santa Catarina e Ceará completam a lista dos estados que mais identificaram casos de ataques a bancos.
Mas os problemas não param por aí. O crescimento dos ataques a carros-fortes dispararam no Brasil e tiveram alta de 60% na mesma base de comparação. Foram registradas pelo menos 109 emboscadas aos veículos que transportam dinheiro, segundo a Contrasp. Tamanha é a dramaticidade da situação que o Brasil é considerado o país mais perigoso do mundo para transportar dinheiro em carro-forte e guardá-lo em empresas de segurança, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Transporte de Valores (ABTV).
Somente em março de 2018, seis casos de ataques a carros-fortes foram registrados em Goiás, Alagoas, Bahia, Pernambuco e São Paulo. Entre os registros está o que ocorreu no Aeroporto de Viracopos (SP), que resultou no roubo de US$ 5 milhões.
Imposto menor
Dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) apontam que, no ano passado, R$ 1,31 trilhão foi sacado em caixas eletrônicos pelos brasileiros. Entretanto, a tendência é de que essa situação mude. Pela primeira vez na história, as compras com cartões ultrapassaram a quantia de saques e totalizaram R$ 1,36 trilhão. Na opinião do presidente da Abecs, Fernando Chacon, os meios eletrônicos de pagamento trazem mais segurança para a população e contribuem para formalização da economia.
A participação dos cartões de crédito, débito e pré-pagos no consumo privado das famílias chegou a 32,6% em 2017 e a meta é que totalize 60% nos próximos cinco anos. Na avaliação de Chacon, esse processo deve ser incentivado por meio do uso intensivo do cartão pré-pago e com o processo de interoperabilidade que possibilitará transferências de recursos entre contas de pagamento, o que não ocorria até o momento. Antes de regulamentação do Banco Central (BC), a movimentação de recursos só ocorria em conta-corrente.
Para desestimular que as pessoas usem dinheiro físico, a Abecs apresentou ao governo um programa de incentivo a lojistas, consumidores e fabricantes de produtos. Pela proposta, seria estabelecida uma quantidade mínima de vendas e compras com fornecedores a serem pagas com meios eletrônicos. Em troca, haveria dedução fiscal. “As empresas que aderissem poderiam ter dedução de parte dos impostos. A base tributária delas seria menor, porque deduziríamos o que fosse efetivamente gasto ou recebido pela empresa por meios eletrônicos”, afirma Panca, do Banco do Brasil.
Ele ressalta que os consumidores também poderiam ter dedução no Imposto de Renda, já que os pagamentos eletrônicos são facilmente rastreados. Isso dependeria de um acordo com a Receita. “O consumidor teria redução do montante gasto por meios eletrônicos na base tributária”, explica. O executivo do BB afirma que a proposta levou em conta experiências internacionais de sucesso, como a da Coreia do Sul. No país asiático, após implementar um projeto semelhante, a arrecadação de tributos cresceu quase 200% diante do uso dos cartões.
Brasília, 08h39min