Correio Econômico: Lula atrás das grades

Publicado em Economia

Não há nada a comemorar em relação à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de rejeitar o pedido de habeas corpus feito pelo ex-presidente Lula. O petista construiu uma história impressionante. Tornou-se um mito ao executar políticas voltadas para os mais pobres. A ganância pelo poder, no entanto, o fez ultrapassar todos os limites da ética. Ele se igualou ao que há de pior no mundo da política. Foi carimbado como símbolo da corrupção.

É doído ver uma figura tão importante para o processo de redemocratização do país estar a um passo da prisão. A esperança que norteou gerações se transformou em decepção — em muitos, ganhou contornos de raiva. Não por acaso, a percepção é de que o processo político está totalmente podre. A grande maioria dos que se candidatam a cargos públicos está apenas preocupada com o enriquecimento pessoal. Nada em favor do povo. Vivemos num país feio e desonesto, cheio de ricos delinquentes, como bem ressaltou o ministro Luís Roberto Barroso, do STF.

 

O Brasil, apesar de todas as promessas de Lula, continua com os dois pés fincados no atraso. O Estado não consegue prover o mínimo de serviços à sociedade. Tudo está falido: a educação, a saúde, a segurança. O petista, que se gaba de ter mudado a vida de milhões de pessoas, contribuiu pesadamente para a crise moral, política e econômica que estamos vivendo. Seus seguidores vão continuar dizendo que o líder supremo do PT é inocente, que está sendo vítima de mais um golpe para não concorrer à Presidência da República, disputa que ganharia com facilidade.

 

Os fatos, contudo, são contundentes. Lula foi condenado em todas as instâncias em que foi julgado. Teve todas as chances de se defender, mas não conseguiu derrubar a verdade, não teve como brigar com os fatos. O ex-presidente, como mostram as provas apresentadas pela Justiça, se aproveitou do maior esquema de corrupção de que se tem notícia no Brasil. Apesar de seus discursos eloquentes, posando de vítima, Lula foi condenado em segunda instância e, prevalecendo a lei, terá de pagar por seus erros como qualquer mortal.

 

Estado paralelo

 

Há que se esperar uma reação brutal dos defensores do petista contra a ordem e a democracia. Mas, se incentivar a guerra de ódio que vêm alimentando como forma de se defender, Lula condenará o país a uma crise institucional gravíssima. O Brasil está dividido demais. A racionalidade dos que são contra e dos que estão a favor do ex-presidente se esvaiu há muito tempo. Todos perdem com isso. Em casos claros de corrupção, não pode haver paixão, apenas compromisso com a lei. Lula não é o único acusado de ter se aproveitado do esquema que saqueou o Estado.

 

O que prós e contra Lula devem cobrar é que todos sejam punidos com rigor. Não pode haver lei apenas para um lado. Felizmente, o movimento de combate aos desmandos e à impunidade vem mostrando que, perante os tribunais, não há distinção por ideologia. Desde 2016, quando passou a valer o entendimento do STF de que réus condenados em segunda instância podem ser presos, 77 pessoas de todos os matizes políticos foram punidas por corrupção e lavagem de dinheiro somente em uma vara de Justiça que trata da Operação Lava-Jato.

 

O Brasil, com a possível prisão de Lula e de todos os que saquearam o país, precisa mostrar que o crime não compensa. É urgente eliminar a sensação de que vivemos em uma terra de ninguém, de que todo mundo pode tudo. Isso vale para os políticos corruptos e para os bandidos que se aproveitaram da ausência do governo para criarem um Estado paralelo. O Brasil passou de todos os limites da impunidade. Tomara que estejamos aprendendo a lição.