A segurança pública assumiu o topo da agenda do presidente Michel Temer, mas o Palácio do Planalto está disposto a estimular um debate para cobrar dos bancos explicações sobre o inesperado aumento das taxas de juros para empresas e consumidores. A intenção não é fazer uma cruzada contra o sistema financeiro, como a levada a cabo, sem sucesso, pela ex-presidente Dilma Rousseff. Será um movimento discreto, mas com medidas efetivas tomadas pelo Banco Central. Os bancos, na visão do governo, precisam dar uma efetiva contribuição à retomada do crescimento econômico.
A ideia, num primeiro momento, é chamar os executivos dos cinco maiores bancos do país — Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander — para conversas individuais ou em grupo. Temer se encarregaria de mostrar o quanto é importante que o sistema financeiro ajude a impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB). Hoje, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o resultado de 2017, um crescimento próximo de 1%, e as projeções apontam para expansão de 3% neste ano. Contudo, para que esse salto se confirme, será preciso mais crédito para consumo e investimentos. Na visão do Planalto, demanda há. O problema é a falta de vontade dos bancos de emprestar.
Um dos ministros mais próximos de Temer diz que o forte envolvimento do governo com a segurança e o desejo imenso de que a intervenção federal no Rio de Janeiro dê certo não impedem que o Planalto continue tocando uma agenda positiva para a economia. “Abrimos mão da reforma da Previdência, mas temos muito o que fazer para incrementar a economia. Uma delas é estimular a liberação de crédito pelos bancos”, ressalta. Na opinião do ministro, é inadmissível que a taxa básica de juros (Selic) definida pelo BC tenha caído de 14,25% para 6,75% ao ano e o custo dos empréstimos, aumentado. Em janeiro, os encargos médios passaram de 40,3% para 41,1% ao ano e, no cheque especial, atingiram 324,7% anuais.
Falta concorrência
O governo ressalta que o BC e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) estão conversando sobre formas para reduzir os excessos nas taxas do cheque especial. O presidente Temer, no entanto, quer pressa. E cobra da equipe econômica que o barateamento do crédito seja disseminado. Para ele, quando pede o engajamento dos bancos na retomada do crescimento, não está falando em limitar lucros. Mas é preciso conter os exageros. Em 2017, somente o BB, o Bradesco, o Itaú Unibanco e o Santander computaram ganhos conjuntos de R$ 65 bilhões. “Temos visto os maiores banqueiros do país dizendo que estão dispostos a liberar mais crédito. No entanto, tudo não passa de discurso”, diz um técnico da Fazenda.
O Planalto acredita que o BC pode ser mais ativo no papel de estimular a queda dos juros para empresas e consumidores. “Nas conversas de Ilan Goldfajn (presidente do Banco Central) com Temer, a necessidade de oferecer mais crédito à economia está sempre presente. E reconhecemos o empenho da autoridade monetária para corrigir distorções de mercado. O problema é que o sistema financeiro brasileiro é muito concentrado. A concorrência é mínima”, afirma um integrante da equipe presidencial. “A falta de concorrência é tamanha que até BB e Caixa entraram no jogo”, acrescenta.
Resta saber se o descontentamento do Planalto com os bancos é real ou apenas jogo de cena. Comprar briga com o sistema financeiro exige disposição. Como diz um graduado funcionário público, não se está falando neste momento de redução de lucros por meio de decreto presidencial. O que se está buscando é diálogo e mecanismos técnicos para ampliar a oferta de crédito. O governo não pode ficar parado, assistindo impassível os bancos andando na contramão. A economia precisa de crédito para avançar mais rapidamente. Ainda há mais de 12 milhões de desempregados em busca de oportunidades no mercado de trabalho. E elas só vão surgir se todos, inclusive o sistema financeiro, derem suas contribuições.
Brasília, 06h19min