Correio Econômico: BC pressionado pelo câmbio

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ANTONIO TEMÓTEO

O Banco Central já deixou claro que analisa, prioritariamente, as expectativas de inflação, o desempenho do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e o nível de atividade econômica para definir o corte da taxa básica de juros (Selic).

A autoridade monetária ainda sinalizou que as variações do dólar e o nível de repasses cambiais para os preços são temas complexos, debatidos constantemente pela academia, sem uma conclusão definitiva. O que a equipe de Ilan Goldfajn quer deixar claro é que não fará intervenções para tentar conter a alta da moeda estrangeira, como era comum no governo petista.

Não ficou claro para o mercado e para quem acompanha o dia a dia do BC que a autoridade monetária só fará intervenções relevantes em momentos de grandes tensões. Na avaliação da equipe de Goldfajn, esse não é o caso agora.

“O câmbio é flutuante e não há por que cometer os mesmos erros do passado. O movimento de alta do dólar é global. Não há uma fuga de capitais do país. Além disso, estamos preparados para qualquer choque”, diz um técnico da equipe econômica.

Risco Brasil

Apesar disso, o dólar terminou o pregão de terça-feira (15/05) em alta de, 0,5%, cotado a R$ 3,646. A moeda acumulou alta pelo terceiro dia de negociação consecutivo. No mês, a divisa encareceu 4,53%; subiu 10,78% no ano e 17,85% em 12 meses. Para se ter uma ideia, o risco Brasil, apurado por meio dos Credit Default Swaps (CDS) de cinco anos, saltou para 189 pontos, indicando receio dos investidores.

Os analistas da BB Investimentos Rafael Reis e Ricardo Vieites destacam que o preço da divisa norte-americana foi influenciado pela dinâmica das expectativas do mercado para os juros da maior economia do mundo. Além de dados de varejo melhor do que o esperado para março, os títulos públicos da nação apresentaram rendimentos superiores a 3%. Os investidores consideram o dado um indício de maior probabilidade de três altas da taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed).

Toda a tensão tem levado o mercado a questionar se não seria hora de o BC elevar o nível de intervenções no mercado de câmbio. Muitos questionam que o diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos encolherá ainda mais a partir desta quarta-feira (16/05), quando o Comitê de Política Monetária (Copom) levará a Selic para 6,25% ao ano. E isso impulsionará uma fuga de recursos para os Estados Unidos. A equipe de Ilan Goldfajn ainda não sinalizou qualquer disposição de mudar a estratégia adotada até agora.

Entretanto, ainda não ficou claro se a o câmbio ficará mais perto de R$ 3,70 ou flertará com os R$ 4. A tendência é de grande volatilidade nos próximos meses, já que os principais favoritos para as eleições de 2018 são candidatos estranhos para o mercado e pouco comprometidos com a agenda de ajustes e reformas.

Brasília, 06h27min

Vicente Nunes