HAMILTON FERRARI
Na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) sendo comandado pelo novo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, a diretoria decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 6,5% ao ano. Esta foi o oitavo encontro consecutivo que a autoridade monetária decidiu segurar os juros. A decisão vai de acordo com a expectativa do mercado.
Campos Neto não quer correr o risco de mexer na política monetária neste momento de tanta incerteza. A reforma da Previdência em nada avançou no Congresso Nacional. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aguardou o envio do projeto de lei que altera as regras para a inatividade e pensões dos militares, que foi encaminhada hoje — um mês após a Proposta de Emenda à Constituição dos trabalhadores da iniciativa privada e servidores.
A taxa Selic está em 6,5% ao ano desde março de 2018, ou seja, há exato um ano. Há a expectativa, porém, de que os juros caiam assim que as reformas forem aprovadas. Isso porque a inflação está sob controle e sem perspectivas de ficarem acima do centro da meta, que é de 4,25% em 2019 e 4% em 2020.
Confira o comunicado do BC:
Indicadores recentes da atividade econômica apontam ritmo aquém do esperado. Não obstante, a economia brasileira segue em processo de recuperação gradual;
O cenário externo permanece desafiador. Por um lado, os riscos associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas recuaram desde a reunião anterior do Copom. Por outro lado, os riscos associados a uma desaceleração da economia global, em função de diversas incertezas, mostram-se mais elevados;
O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente se encontram em níveis apropriados ou confortáveis, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária;
As expectativas de inflação para 2019, 2020 e 2021 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,9%, 4,0% e 3,75%, respectivamente; e
No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom situam-se em torno de 3,9% para 2019 e 3,8% para 2020. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2019 em 6,5% a.a. e se eleva a 7,75% a.a. em 2020. Também supõe trajetória para a taxa de câmbio que termina 2019 em R$/US$ 3,70 e 2020 em R$/US$ 3,75. No cenário com juros constantes a 6,50% a.a. e taxa de câmbio constante a R$/US$ 3,85*, as projeções situam-se em torno de 4,1% para 2019 e 4,0% para 2020.
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, (i) o nível de ociosidade elevado pode produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (ii) uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. O risco (ii) se intensifica no caso de (iii) deterioração do cenário externo para economias emergentes. O Comitê avalia que o balanço de riscos para a inflação mostra-se simétrico.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela manutenção da taxa básica de juros em 6,50% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2019 e, com peso gradualmente crescente, de 2020.
O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.
O Comitê enfatiza que a continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes.
Na avaliação do Copom, a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve manutenção da taxa Selic no nível vigente. O Comitê julga importante observar o comportamento da economia brasileira ao longo do tempo, com menor grau de incerteza e livre dos efeitos dos diversos choques a que foi submetida no ano passado. O Copom considera que esta avaliação demanda tempo e não deverá ser concluída a curto prazo. O Comitê ressalta que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.
O Copom avalia que cautela, serenidade e perseverança nas decisões de política monetária, inclusive diante de cenários voláteis, têm sido úteis na perseguição de seu objetivo precípuo de manter a trajetória da inflação em direção às metas.
Brasília, 18h07min