Se a inflação tem dando boas notícias nos últimos meses, o desemprego continua massacrando o país. Os 12,3 milhões de desempregado, que correspondem a 12% da população economicamente ativa — um recorde —, só ratificam que a retomada da economia ainda está distante, a despeito de o governo dizer que o pior da crise já passou.
Mesmo com o alívio nos reajustes de preços, as famílias sofrem com o forte encolhimento da renda. Não há como acreditar em um salto do consumo nos próximos meses, apesar de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estar caminhando rapidamente para o centro da meta, de 4,5%, e de as taxas de juros apontarem para baixo.
Dado o estrago provocado na economia, as demissões continuarão superando as contratações ao longo deste ano. Muitas empresas ainda pretendem reduzir o quadro de pessoal, mas não o fazem porque não têm dinheiro suficiente para arcar com os encargos trabalhistas. A maior parte dos recursos está sendo usada para o pagamento de juros das dívidas. A partir do momento em que os débitos forem abrindo brechas no orçamento, as companhias mandarão para casa mais uma parcela de funcionários.
Os economistas mais pessimistas acreditam que a taxa de desemprego pode subir até os 13% nos próximos meses. Isso implicará em pelo menos 1 milhão a mais de trabalhadores engrossando o exército de desocupados. Por isso, mesmo que a inflação continue caindo e os bancos comecem a, efetivamente, cortar os juros dos empréstimos, será difícil ver de volta a sensação de bem-estar.
Assim como foi um dos últimos atingidos pela mais grave recessão da história, o mercado de trabalho será o derradeiro a responder à retomada da atividade. Por isso, é importante que o governo não perca o rumo. O crescimento virá à medida que a confiança dos agentes econômicos for se fortalecendo. E isso passa pelo compromisso com o ajuste fiscal e a aprovação das reformas. É preciso dirimir todas as dúvidas em relação ao equilíbrio das contas públicas.
Romantismo monetário
Ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas Gomes diz que, mantido o ritmo atual, a inflação poderá cair abaixo de 4% nos próximos meses. A aposta é que o IPCA fique entre 3,6% e 3,8% pelo menos até agosto. Além de amenizar o sufoco das famílias, provocado pelo desemprego, o custo de vida menor permitirá que o Banco Central mantenha firme a promessa de reduzir a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual por reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). “A inflação deixou de ser um problema. A bola já está no gol”, diz.
Ele ressalta que, nos dois primeiros meses do ano, pode ser que os índices de preços mostrem ligeira subida, mas será um movimento passageiro, sustentado pelas despesas tradicionais de início de ano, como impostos e mensalidades escolares, que tiveram pesado reajuste. “Tudo está conspirando a favor da queda da inflação. A recessão ainda está forte, há uma safra agrícola expressiva e o dólar, apesar do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, caminha para os R$ 3.”
Para Thadeu, esse quadro benigno reforça que o BC precisa acabar com o romantismo monetário, ou seja, manter os juros altos demais por um prazo muito longo. “Isso só contribui para aumentar a dívida pública”, frisa. O momento, portanto, é de o BC também dar sua contribuição para o ajuste fiscal. Os gastos com juros da dívida totalizaram R$ 407 bilhões em 2016. É dinheiro demais para um país com tantas carências.
No Palácio do Planalto, o discurso é que o desemprego vai se estabilizar no segundo semestre, quando a economia começará a mostrar reação. Assessores do presidente Michel Temer dizem que tudo está sendo feito para reverter a gravíssima recessão. “A inflação caiu e os juros estão baixando. É preciso ter um pouco mais de paciência”, afirma um dos técnicos. Ele acrescenta que, tão logo o crescimento econômico retorne, as empresas voltarão a contratar. Difícil é fazer os milhões de desempregados acreditarem nisso. Muitos sequer têm dinheiro para alimentar os filhos.
Brasília, 00h50min