Consumo das famílias encolhe 0,1% no PIB do trimestre de 2021

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta terça-feira (01/06), mostram que o consumo das famílias, importante componente do Produto Interno Bruto (PIB) e um dos principais motores da atividade econômica, encolheu 0,1% no primeiro trimestre de 2021 na comparação com o quarto trimestre de 2020 após dois dados trimestrais positivos. Em relação ao mesmo período de 2020, o recuo foi de 1,7%, e, no acumulado em quatro trimestres, o tombo foi de 5,7%.

Apesar do bom desempenho da indústria em geral, principalmente da agropecuária, que ajudou na alta de 1,2% no PIB do primeiro trimestre de 2021, a pandemia da covid-19 e a inflação em alta tem ajudado a travar o consumo das famílias, principalmente, de alimentos, refletindo a perda do poder de compra do brasileiro e a interrupção do auxílio emergencial nos primeiros meses do ano. Além disso, o desemprego crescente, que atingiu inéditos 14,8 milhões de brasileiros, é outro fator que tem reduzido a capacidade de consumir do brasileiro de forma geral. Estimativas do mercado já apontam o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrando o semestre em 8% no acumulado em 12 meses.

 

De acordo com o comunicado do órgão, o aumento da inflação pesou no consumo de alimentos ao longo desse período para as famílias, que estão cada vez mais endividadas. “Com o mercado de trabalho também está desaquecido, houve ainda redução significativa nos pagamentos dos programas do governo às famílias, como o auxílio emergencial”, afirmou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, acrescentando o aumento no crédito para pessoas físicas no período.

 

Conforme dados do Banco Central, o endividamento das famílias bateu recorde no mês de fevereiro, alcançando 57,7% da massa salarial. Esse dado tem sido apontado como um fator de preocupação tanto para a oferta de crédito, que vai recuar, quanto para a recuperação do consumo, porque as famílias vão ter restrições para comprar mais diante do aumento do risco de inadimplência e dos juros, que deverão continuar em alta.

 

O avanço do PIB do trimestre teve como destaque a alta de 5,7% da agropecuária, puxada pelo aumento da produtividade no campo e, sobretudo, nos preços da soja, que tem maior peso na lavoura brasileira e deve ter safra recorde neste ano.  A alta de 0,7% na produção industrial no primeiro trimestre foi puxada pela indústria extrativa, que cresceu 3,2% na margem. O único resultado negativo foi da indústria de transformação, que encolheu 0,5% na margem, devido à queda no consumo que reduziu a demanda da indústria alimentícia, segundo o IBGE.

 

Nos setor de serviços, que responsável por 73% do PIB e o segmento que mais emprega no país, houve avanço de 0,5%, puxado por crescimento em praticamente todos os segmentos, com outros serviços prestados às famílias praticamente estável. Contudo, a avaliação negativa foi na administração, saúde e educação pública, de 0,6%. “Não está havendo muitos concursos para o preenchimento de vagas e está ocorrendo aposentadoria de trabalhadores, reduzindo a ocupação do setor. Isso afeta a contribuição da atividade para o valor adicionado”, explicou a coordenadora de Contas Nacionais na nota do IBGE.

 

Enquanto isso, o consumo do governo teve queda de 0,8%, na margem, e de 5,7%, na comparação anual.  Os investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), cresceram 4,6%, refletindo o aumento na produção interna de bens de capital e no desenvolvimento de softwares, a alta na construção. Contudo, é importante destacar que esses dados, assim como as importações, ainda têm impacto do Repetro, regime especial do setor de petróleo, onde ainda há importações fictícias de plataformas que não saíram do país mas haviam sido contabilizadas no passado como exportações para obterem benefício fiscal e que, agora, estão sendo regularizadas.