Com reforma ministerial, Posto Ipiranga vai trocar bandeira para Ale

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ROSANA HESSEL

A nova reforma ministerial sinalizada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deverá encolher o superministério da Economia, chefiado por Paulo Guedes, que está cada vez mais enfraquecido. As brincadeiras entre pessoas da Esplanada dos Ministérios é que o ministro perderá o status de Posto Ipiranga do presidente. Enquanto isso, o Centrão aumenta seus tentáculos sobre o governo e os Três Poderes, dando uma prévia do semipresidencialismo na prática.

De acordo com fontes da Esplanada, com possível  fatiamento da Economia, Guedes deverá abandonar o título de Posto Ipiranga e passará para ser o Posto Ale, em referência à bandeira famosa por ter uma gasolina “mais barata” do que as marcas consolidadas na capital federal. Um desses postos, inclusive, está bem perto da Torre de TV e foi o que deu nome à operação Lava Jato.

O avanço do Centrão sobre um governo cada vez mais fraco devido às investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, no Senado Federal, está obrigando o presidente ir na contramão do discurso da austeridade defendida por Guedes. Além disso, ao recriar o Ministério do Trabalho e entregá-lo a Onyx Lorenzoni, atual ministro da Secretaria-Geral da Previdência, com passagens pela Casa Civil e pelo ministério da Cidadania, Bolsonaro encolhe o poder do superministro. A expectativa é que Bolsonaro anuncie as novas mudanças na próxima semana.

Procurada, a assessoria do Ministério da Economia ainda não comentou o assunto. O enfraquecimento de Guedes, aliás, vem ocorrendo há um bom tempo diante das promessas não cumpridas e das derrotas recentes da pasta no Congresso, como ocorreu na Medida Provisória da privatização da Eletrobras, que virou uma colônia de jabutis — emendas não relacionadas à proposta principal. Não à toa, o ministro tem mudado de comportamento nas reuniões com analistas, ouvindo mais do que fala, o que vem provocando alguma surpresa dos interlocutores.

Prévia do semipresidencialismo

Onyx daria lugar para o general da reserva Luiz Eduardo Ramos, que deixaria a Casa Civil e retornaria para SGP. Essa dança das cadeiras abre espaço para a chegada do presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e o “chefe” do Centrão. Ao chegar ao 4º andar do Palácio do Planalto para comandar a Casa Civil, Nogueira deverá tornar-se uma espécie de “primeiro-ministro” do atual governo, o que poderá tornar Bolsonaro uma “rainha da Inglaterra”, ou seja, um figurante decorativo do Poder Executivo, na avaliação de fontes da Esplanada e próxima aos Três Poderes.

“Com essa nova reforma ministerial, vamos ter uma verdadeira prévia do semipresidencialismo defendido pele presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL)“, comentou uma fonte próxima aos Três Poderes.  Lira vem se articulando para tentar mudar o sistema de governo, a fim de que os parlamentares teriam mais poder e o presidente poderia deixar de ser escolhido diretamente pelo povo.

Vale lembrar que Ciro Nogueira, com essa indicação para a Casa Civil, amplia seu poder sobre os Três Poderes. Ele tem Lira no comando da Câmara dos Deputados, o terceiro nome na linha sucessória. Além disso, foi o parlamentar que indicou o nome de Kassio Marques a Bolsonaro para a vaga do ex-ministro Celso de Mello no Supremo Tribunal Federal (STF).  “O governo está sendo terceirizado”, afirmou uma outra fonte do Legislativo.

Vicente Nunes