Enquanto mantinham os olhos nas movimentações do governo brasileiro sobre Previdência, os investidores acompanharam o discurso de Draghi. Ele sinalizou uma visão mais acomodatícia da política monetária que será conduzida na região, pelo BCE. De acordo com ele, há uma interpretação mais cautelosa em relação à condução dos juros locais. Inicialmente, os dirigentes econômicos calculavam que as taxas locais, que estão no menor nível da história, seriam mantidos nos atuais níveis até meados do ano, situação que foi revisada para o fim de 2019.
Ainda de acordo com o presidente da autoridade monetária, o BCE prevê, para 2019, perspectivas mais baixas em relação ao avanço da economia local, crescimento o qual, segundo as previsões, será de 1,1%, 0,6 ponto percentual (p.p) abaixo dos cálculos de três meses atrás. Consequentemente, segundo a autoridade monetária, há, também, uma revisão para baixo em torno da projeção da inflação na Zona do Euro.
Com isso, como forma de estimular a carestia, o presidente do BCE afirmou que a autoridade monetária irá ofertar aos bancos europeus empréstimos de baixo custo, modalidade conhecida como Operações de Refinanciamento de Prazo Mais Longo Direcionadas (TLTROs, na sigla em inglês). As falas de Draghi impactaram, imediatamente, o comportamento do dólar nos negócios mundiais.
Segundo Reginaldo Galhardo, gerente de Câmbio da Treviso Corretora, o real teve forte recuo em relação ao dólar baseado em fatores externos. “Os dados sobre uma eventual desaceleração da Zona do Euro, que, ao meu ver, não deve entrar em recessão, mas deve ter um avanço econômico menor, não indicaram bons sinais. Isso derrubou fortemente as moedas frente ao dólar. O BCE também citou a possibilidade de financiamento a taxas mais baixas para bancos, ou seja, a ampliação do volume de dinheiro em circulação. Mas a autoridade monetária somente faz isso quando há uma possibilidade de crise”, destacou.
Desafios
Para Galhardo, com um cenário externo desafiador, o investidor saiu do continente europeu e buscou, no dia, a moeda norte-americana como forma de proteção, já que a divisa é considerada um porto-seguro. Os riscos de perdas ficam menores. Na visão de Jefferson Laatus, especialista em dólar e sócio-analista do Grupo Laatus, uma eventual recessão global assusta operadores. “O Livro Bege do Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos), divulgado ontem, mostrou uma preocupação com eventual recessão na União Europeia, em específico na Alemanha. Hoje, por exemplo, a fala de Draghi foi muito mais no sentido de tentar criar estímulos à economia europeia, mas só se dá estímulos quando a economia não anda. Além disso, outro mecanismos é o corte de juros. No entanto, na economia europeia, a atual taxa de juros é igual a zero, ou seja, na verdade, isso força a autoridade monetária a injetar dinheiro na economia”, analisou.
Laatus frisa ainda que, sem grandes novidades, a divisa norte-americana deve permanecer no intervalo entre R$ 3,80 e R$ 3,90 no curto prazo. Se houver estresse, vai disparar. “O mercado está perdendo a convicção no voto de confiança que concedeu a Bolsonaro. Soma-se a isso, um cenário externo não muito positivo. Ou seja, o dólar vem conquistando novos patamares e tende a se manter neles, exceto caso algo muito positivo no que tange à Previdência”, explicou. Segundo o especialista, a moeda norte-americana pode caminhar, facilmente, para os R$ 4,00 caso a conjuntura internacional torne-se mais complexa.
Brasília, 17h09min