O Banco Central admitiu, em comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), no qual explicou a decisão de manter a taxa básica de juros (Selic) em 6,50% ao ano, que, com o dólar a R$ 3,70, a inflação de 2018 e de 2019 ficará acima de 4%, bem próxima das metas definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5% e 4,25%, respectivamente.
Pelos cálculos da instituição, mantido o dólar a R$ 3,70 até o fim do ano, assim como a taxa Selic em 6,50%, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechará 2018 em 4,2% e o próximo ano em 4,1%. Portanto, a margem de manobra da autoridade monetária está se estreitando. Nesta quarta-feira (20/06), a moeda norte-americana foi cotado a R$ 3,80, com alta de 0,88%.
Apesar das projeções maiores de inflação, o BC acredita que, com a fragilidade da economia e desemprego elevado, ainda é necessário que a taxa básica de juros continue estimulando a atividade, abaixo, portanto, do nível considerado neutro, que combina crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e custo de vida dentro das metas.
As projeções do mercado são de que a inflação de junho poderá encostar em 1%, devido ao estrago provocado pela greve dos caminhoneiros. Com isso, depois de 11 meses, o IPCA acumulado em 12 meses ficará acima de 3%, o piso da meta. Essa folga, por sinal, pesou na decisão do BC de não mexer na Selic agora, a despeito da pressão do mercado.
Porta aberta para alta dos juros
Pelo cenário básico do BC para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Segundo a instituição, de um lado, a atividade fraca reduz o repasse de custos para os preços aos consumidores. De outro, a frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e dos ajustes necessários na economia pode impactar as projeções futuras para o IPCA. Nesse caso, vai um recado para os candidatos à Presidência da República, para que priorizem o ajuste fiscal, a começar pela reforma da Previdência.
A decisão do BC de não mexer na Selic foi unânime. O consenso entre os diretores do BC é de que não pode haver divisões nas decisões neste momento tão tumultuado, em que a credibilidade da instituição está sendo colocada à prova. O BC informa que vai monitorar o andamento da economia para definir os rumos da Selic. Mas deixou a porta aberta para elevar a Selic, se necessário.
A princípio, o BC não mostra disposição em mexer na taxa no encontro do Copom marcado para o fim de julho. Mas, até lá, muita coisa vai acontecer, inclusive a definição de quais serão os candidatos que efetivamente concorrerão à Presidência da República.
Brasília, 18h25min