Com descontrole fiscal, câmbio pode chegar a R$ 10 em 2030, prevê MB

Compartilhe

ROSANA HESSEL

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, fez um exercício de três cenários para o câmbio, considerando a reeleição do presidente Jair Bolsonaro, em 2022:  realista, pessimista e otimista. Como resultado, chegou à conclusão de que o dólar poderá chegar a R$ 10, no fim de 2030, no cenário mais pessimista e o segundo mais provável, considerando forte descontrole fiscal. No realista, que tem mais chances de ser concretizado, mas com fraco crescimento da economia, a divisa norte-americana chegaria perto de R$ 7 no final da década.

Conforme as estimativas de Vale, o cenário realista possui 60% de chances de concretização e prevê o dólar patamar elevado por um período prolongado, chegando a R$ 6,70, no fim de 2030. Nessa conjuntura, a economia continuará crescendo pouco, abaixo de 2% ao ano, e o presidente promoveria um desmonte gradual do arcabouço que foi criado nos últimos, especialmente a regra do teto — emenda constitucional que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior.

“A expectativa é de que a economia brasileira seguirá fragilizada ao longo dos próximos anos em virtude dos desajustes fiscais iniciados nos últimos anos e que não há sinais de que vá mudar”, explicou Vale. Contudo, supõe-se que algumas medidas positivas, como a reforma da Previdência e a Lei do Saneamento continuem avançando. “Seria um cenário de crescimento medíocre, mas sem uma crise profunda”, frisou.

No cenário pessimista, com 30% de probabilidade de ocorrer, o dólar poderá chegar a R$ 10 no fim da década. “A deterioração fiscal continua, com piora mais evidente a partir do segundo mandato de Bolsonaro, lembrando, de certa forma, o caminho percorrido pela ex-presidente Dilma Rousseff”, destacou Vale.

Segundo ele, nesse cenário, nos próximos dois anos, o atual governo levaria a um “esgarçamento da situação fiscal”, mas com a popularidade do presidente crescente devido ao novo programa de auxílio social que ele vem prometendo, o Renda Brasil, ou Renda Cidadã, como vem sendo chamado atualmente. A conjuntura seria preocupante, com pressões inflacionárias e forte descontrole fiscal. “Esse cenário parece com o caminho traçado pela Argentina desde a década passada, com câmbio chegando em R$ 10 no final da década”, reforçou.

O cenário otimista e menos provável, com apenas 10% de chances de ser concretizado, prevê o governo Bolsonaro respeitando as regras de responsabilidade fiscal até o fim do mandato.

As projeções constam do relatório quinzenal da MB, que prevê queda de 4,8% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e crescimento de 2,2%, em 2021. A consultoria estima o dólar cotado a R$ 5,40 no fim de dezembro e ainda espera superavit de US$ 61,8 bilhões na balança comercial deste ano, passando para US$ 68,1 bilhões, no ano que vem.

Vicente Nunes