As revelações feitas por Antonio Palocci, ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff, são devastadoras para o PT. Não só enterram o discurso vitimizado do partido, como implode as bases da sonhada candidatura do ex-presidente ao Palácio do Planalto. Não foi um mero integrante do partido que confirmou a organização criminosa montada dentro dos governos petistas. Palocci era um dos homens mais fortes do PT e muito próximo de Lula e Dilma. Nada era decidido na cúpula da legenda sem que o ex-ministro fosse consultado.
Os defensores do PT — muitos pagos com dinheiro oriundo da corrupção — certamente vão espernear e gritar contra as declarações de Palocci, mas os argumentos serão esvaziados pela verdade. Além da roubalheira que devastou a Petrobras e outras estatais, os governos petistas quebraram o país. A recessão provocada por Dilma levou mais de 14 milhões de pessoas ao desemprego. Foram mais de dois anos de retração profunda da atividade. Felizmente, esse pesadelo está chegando ao fim.
Resta torcer para que a Justiça seja implacável não só com Lula, que, nas palavras de Palocci, tinha um pacto de sangue com a construtora Odebrecht, mas com todos aqueles que saquearam o país. Isso vale para políticos e empresários, sobretudo os irmãos Joesley e Wesley Batista, do grupo JBS. Não é possível que, depois de tudo o que se descobriu em relação a eles, fiquem usufruindo de uma vida nababesca, enquanto a maior parte dos brasileiros paga a conta da corrupção, sustentando um Estado loteado entre pequenos grupos. A punição exemplar não pode ter coloração política.
Os últimos dias mostraram que a desfaçatez dos que roubam dinheiro público passou dos limites. As imagens dos R$ 51 milhões encontrados em um apartamento usado por Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Lula e de Michel Temer e vice-presidente da Caixa Economia Federal na gestão de Dilma, são assustadoras. Explicitam o tamanho da ganância daqueles que deveriam zelar pelo patrimônio da União. O Brasil fechará este ano com R$ 159 bilhões de rombo em suas contas. Esse buraco se repetirá em 2018. Não há dinheiro para a saúde, para a edução, para a segurança pública.
Hora da virada
Tudo o que se espera é que esse filme de terror dê uma trégua. O país precisa sair desse clima de estupefação, que só agrava a crise política, para voltar a produzir, criando empregos e ampliando a renda. Não fossem os sobressaltados provocados a cada instante, a economia estaria hoje surfando numa onda de crescimento que, certamente, teria derrubado o desemprego mais rapidamente e reduzido o desencanto que aflige a população. Os indicadores divulgados nos últimos dias mostram a atividade ganhando corpo, mas estão longe de provocar uma onda consistente de otimismo.
A maior parte dos analistas revisou as projeções de expansão para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e em 2018. As apostas caminham, agora, para crescimento entre 0,7% e 1% em 2017 e de até 3,4% no ano que vem. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admite que o governo também pode rever sua estimativa de incremento para 2017, de 0,5% para 1%. Isso exige, porém, que o país volte à normalidade. Empresários e consumidores precisam ter confiança no futuro. Só isso fará com que os investimentos tão necessários para sustentar o PIB saiam das gavetas.
A inflação, que chegou a quase 11% em 2015, encerrou os 12 meses terminados em agosto em 2,46%, abaixo dos 3% fixados como piso da meta perseguida pelo Banco Central. No acumulado deste ano, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cravou apenas 1,62%, o nível mais baixo para o período desde 1994, quando foi editado o Plano Real. Sem qualquer pressão sobre os preços, o Banco Central cortou ontem a taxa básica de juros (Selic) para 8,25% ao ano, patamar sem precedentes desde maio de 2013. Há quem acredite que a Selic poderá cair para até 6,5% no início de 2018.
Os especialistas creem que, gradualmente, a economia conseguirá tirar proveito da inflação e dos juros em baixa. Contudo, é preciso que a política também ajude. Os desmandos já impuseram um custo demasiadamente alto à sociedade. Se for preciso ir às ruas para cobrar as prisões dos saqueadores da nação, que ninguém se intimide. Hoje, Dia da Independência, é um momento importante para reflexão. Daqui a um ano, todos estarão indo às urnas. Será a hora de varrer todos os ladrões da vida pública. E exigir que passem um bom tempo do que lhes resta de vida atrás das grades.
Brasília, 08h59min