Coluna no Correio: Nada de euforia

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O governo está certo de que a economia já deixou a recessão para trás. Ainda que os números divulgados até agora — pelos cálculos do Banco Central, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,53% no segundo trimestre do ano — mostrem a economia em contração, a equipe liderada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, diz que os dados devem ser vistos pelo retrovisor. Daqui por diante, garantem os técnicos, mesmo que tímidos, os resultados devem ser positivos.

Não há, porém, nenhum sentimento de euforia entre os integrantes da equipe econômica. Todos sabem que a melhora que se está vendo agora não garante que o PIB vá deslanchar nos próximos meses. “Na verdade, estamos saindo do fundo do poço, mas, até botar a cabeça de fora, ainda levará tempo”, ressalta um dos técnicos. Para ele, os dados positivos da indústria e do varejo em junho foram possíveis porque a base de comparação era muito ruim. “De qualquer forma, foi um avanço”, diz.

Para que a recuperação da economia se consolide, porém, o governo terá que resolver a questão fiscal. Sem isso, é difícil falar em um período mais consistente de crescimento do PIB. A equipe econômica reconhece que tudo — reativação da atividade, preços do dólar e taxas de juros — está atrelado à arrumação das contas públicas. Se houver qualquer recuo nos projetos que garantem o ajuste e a reversão do deficit público, os incipientes sinais de recuperação se transformarão em uma nova crise — e das bravas.

É por isso, na avaliação dos auxiliares de Meirelles, que o governo deve se livrar rapidamente de qualquer sinal dúbio que possa transmitir insegurança aos investidores. A Fazenda recebeu, nos últimos dias, muitos avisos de que “algo muito estranho” estava acontecendo em relação ao ajuste fiscal. Os ruídos foram provocados, principalmente, pelo projeto de renegociação das dívidas dos estados, que mostrou recuo do Palácio do Planalto num dos pontos considerados cruciais para acabar com a farra de gastos dos governadores: a proibição de reajustes e de contratação de servidores nos próximos dois anos.

“Realmente, foi um revés para o governo. Mas isso é passado. Temos que nos dedicar, agora, a aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o aumento dos gastos à inflação do ano anterior. Essa será a nossa batalha”, ressalta um graduado funcionário da Fazenda. Ele sabe do que fala. Meirelles já foi alertado de que um movimento contra a PEC começa a se formar no Congresso, principalmente na Câmara dos Deputados, onde o fisiologismo corre solto.

Complacência

Apesar do perigo que ronda a PEC dos gastos, a determinação de Meirelles é para não se fazer alarde. A estratégia do ministro prevê atuação forte nos bastidores, com um processo de convencimento dos parlamentares. Os técnicos afirmam que nenhum flanco ficará aberto para evitar contratempos. Contudo, como na política tudo é imprevisível e o planejamento pode não valer de nada, o governo conta com empresários e banqueiros para pressionar o Congresso a não surpreender para o mal. A PEC, alegam os técnicos, é a salvação para o país neste momento. Sem ela, é melhor esquecer a recuperação da economia.

“Não podemos perder a grande chance que nos foi dada de pôr o país nos eixos”, frisa um auxiliar do presidente interino, Michel Temer, que já se posiciona como o salvador que nos resta. O governo, no entanto, precisa dar sua cota de contribuição. Hoje, o peemedebista completa três meses no poder em meio a um vaivém impressionante. Já extinguiu e recriou ministérios, anunciou medidas e depois as revogou, prometeu coisas que não cumpriu. Só não foi punido de forma severa por isso devido à complacência dos agentes econômicos que, neste momento, querem apenas uma coisa: a aprovação, pelo Senado, do impeachment definitivo de Dilma Rousseff.

Brasília, 00h59min

Vicente Nunes