Coluna no Correio: Mais aumentos de impostos estão por vir

Publicado em Economia

Ao decidir pelo aumento de impostos sobre combustíveis, o presidente Michel Temer foi para o tudo ou nada. Fragilizado no Congresso, ele optou por se segurar na economia. O peemedebista foi avisado que, caso o governo anunciasse uma mudança na meta fiscal deste ano, de deficit de até R$ 139 bilhões, sofreria um ataque especulativo que o desestabilizaria de vez. Os investidores não o perdoariam e toda a trégua que foi dada, por meio da queda do dólar e da alta da bolsa de valores, iria pelos ares. Entre ficar mal com o mercado financeiro ou desapontar a população, Temer escolheu a segunda opção, até porque já é extremamente impopular.

 

A equipe econômica tratou de reunir informações sobre o que poderia acontecer caso o governo anunciasse que o rombo nas contas públicas seria maior do que o prometido. Uma onda de desconfiança varreria o país. Apesar de todos os erros de Temer, os investidores acreditam no compromisso da equipe de Henrique Meirelles de não deixar a situação fiscal degringolar de vez. É essa promessa que ainda dá sustentação ao apoio dos donos do dinheiro ao presidente. “Não havia saída. Ou aumentávamos impostos ou mudávamos a meta fiscal e teríamos que aguentar todas as consequências”, diz um técnico.

 

A aposta do Palácio do Planalto é a de que, com essa medida extrema mais o corte adicional de R$ 5,9 bilhões nos gastos, os investidores tenderão a pavimentar um clima de tranquilidade para que Temer possa convencer os congressistas de que, mantido no governo, será capaz de levar o país à retomada do crescimento. A projeção do Ministério da Fazenda é de que, na comparação do último trimestre deste ano com o mesmo período de 2016, o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá 2%. O governo, por sinal, deposita toda a sua sorte no crescimento da economia para reforçar o caixa do Tesouro Nacional.

 

Perigo

 

É aí que mora o perigo. Desde que Temer tomou posse, sustentou-se o discurso de que a economia recuperaria logo o fôlego, e o aumento das receitas seria suficiente para cobrir a elevação dos gastos e garantir o cumprimento da meta sem estresse. Contudo, a retomada não aconteceu e a arrecadação está muito fraca. Como resume bem um assessor do presidente, a situação das contas públicas é dramática. Além de as despesas continuarem crescendo, mais de 12% de todas as receitas previstas para este ano são extraordinárias, ou seja, dependem de fatores sobre os quais o governo não tem controle.

 

A verdade, portanto, é que Temer e a equipe econômica estão transitando em gelo fino. Se parte das verbas extras com as quais estão contando não se confirmar, o dilema que atormentou o governo nos últimos dias voltará com tudo: anunciar novo aumento de impostos (o mais provável) ou mudar a meta fiscal? Antes que isso aconteça, o Planalto quer convencer o Congresso a aprovar a reforma da Previdência a fim de afastar todas as incertezas na economia. Meirelles, sempre otimista, acredita que a aprovação sairá ainda neste ano. Tudo, porém, é torcida. Nada mais do que isso.

 

Brasília, 06h41min