A equipe econômica não assume oficialmente, mas, nos bastidores, já jogou a toalha em relação à reforma da Previdência. A visão entre os técnicos é de que o governo perdeu a batalha, apesar de todos os esforços empreendidos até aqui. Mesmo havendo uma percepção melhor da sociedade sobre a necessidade de ajustar o sistema de aposentadorias, prevaleceu o discurso corporativista que fez a cabeça da maioria do Congresso. “Infelizmente, venceu o atraso”, diz um dos mais importantes membros do time econômico de Michel Temer. “Agora, é torcer para que o próximo presidente tenha a coragem de enfrentar esse tema tão polêmico, mas muito importante para o futuro do país”, afirma.
Relator da reforma, o deputado Arthur Maia deu o tom de fim de festa: “Temos dois problemas graves para fazer a reforma andar: falta de votos e falta de tempo”. O Palácio do Planalto sequer fechou o projeto alternativo que pretende apresentar aos parlamentares em busca de apoio. Mesmo que apresente as propostas de mudanças nos próximos dias, não se sabe se os líderes dos partidos da base aliada se empenharão o suficiente para conquistar os votos necessários. Nos cálculos do ministro Carlos Marun, da Secretaria de Governo, ainda faltam 40 votos para chegar ao mínimo de 308 que garantiriam a vitória do governo. Ele diz que os próximos 15 dias serão suficientes para alcançar a meta. O debate na Câmara começará dia 19 e a votação, dia 20. Pura retórica.
A ordem no Planalto é para que se mantenha o tom de otimismo, contudo, já está pronto o discurso de que a culpa pelo fracasso na reforma da Previdência foi do Congresso, que terá de justificar a explosão do rombo no sistema de aposentadorias — o buraco, em 2017, chegou a R$ 268,7 bilhões. O presidente Temer, por sinal, acredita que a pá de cal na reforma foi jogada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que, por questões eleitoreiras, preferiu deixar as contas públicas à beira do abismo. Os aliados mais próximos de Temer acusam Maia de sabotagem. “Esperávamos mais lealdade por parte do presidente da Câmara. Infelizmente, ele não correspondeu às nossas expectativas. Na verdade, Maia tem sido uma decepção total para o governo”, ressalta um ministro.
À espera do milagre
Caso algum milagre aconteça nas próximas duas semanas e o governo consiga o apoio de que precisa, dois pontos da reforma serão inegociáveis: a idade mínima de 62 anos para mulheres e de 65 para homens se aposentarem e a equiparação das regras entre servidores e trabalhadores da iniciativa privada. “Mas não creio que o Congresso esteja disposto a levar adiante mesmo essa proposta tão enxuta. Os partidos da base estão mais preocupados com as eleições, em fechar alianças. O governo Temer já é quase passado para muitos”, assinala o mesmo ministro.
Para ele, o melhor que o governo tem a fazer, neste momento, é se apegar às boas notícias que estão vindo da economia. Nesta quarta-feira, o Banco Central cortará, mais uma vez, a taxa básica de juros (Selic), de 7% para 6,75% ao ano. Nesse nível, a política monetária impulsionará os investimentos produtivos que garantirão crescimento de pelo menos 3% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Num primeiro momento, os juros mais baixos sustentaram o consumo das famílias. Daqui por diante, tenderão a incentivar o empresariado a retirar projetos da gaveta para ampliar os negócios.
“Não podemos ficar com a pecha de governo derrotado. Se a reforma da Previdência se transformou em um fiasco, não foi por nossa culpa. Temos muito a apresentar: inflação em queda, juros no menor nível da história, empregos de volta, retomada do crescimento”, destaca o mesmo ministro, um dos mais próximos de Temer. Para os parlamentares, tais conquistas pouco importam. Em nada ajudaram o governo a aumentar a popularidade. Em nada vão ajudar a explicar ao eleitorado que um eventual apoio à reforma foi para o bem do Brasil.
Brasília, 06h26min