Coluna no Correio: Dose de paciência

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A ala política do Palácio do Planalto acredita que será possível divulgar as medidas de estímulos que vêm sendo preparadas pelo governo antes do prazo de 20 dias definido pelo presidente interino, Michel Temer. A visão dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) é de que, mesmo com as barreiras impostas pela equipe econômica, prevalecerá o entendimento de que o país não aguenta mais tanta notícia ruim. Assim como o governo está mostrando empenho em cortar gastos e encaminhar medidas duras ao Congresso para fazer o ajuste fiscal, é preciso dar uma direção às empresas e às famílias de que se está trabalhando em ações para tirar a economia do atoleiro.

Os ministros políticos não querem ver repetida a síndrome de Joaquim Levy, que, durante todo o período em que esteve à frente do Ministério da Fazenda de Dilma Rousseff, não conseguia falar em outra coisa que não fosse a arrumação das contas públicas. A falta de visão política de Levy, no entender de assessores de Temer, acabou por miná-lo. Ele perdeu apoio tanto no governo quanto no Congresso. O desgaste foi tamanho que o ministro saiu pelas portas dos fundos, deixando a economia numa situação pior do que encontrou. Levy, por arrogância, achou que tinha poder de sobra para impor sua visão. Errou feio.

Ninguém, na ala política de Temer, tem o atrevimento de comparar o atual comandante da Fazenda, Henrique Meirelles, com Levy, por causa da linha-dura com que a equipe econômica vem agindo. Levy foi um fantoche nas mãos de Dilma. Já Meirelles tem muito prestígio com o presidente interino. Isso não quer dizer que vem vencendo todos os embates dentro do governo. Está longe disso. Tanto que foi obrigado a sancionar uma série de aumentos de gastos, levantando entre os investidores sérias dúvidas sobre o real compromisso do peemedebista com a boa saúde das finanças federais.

O adiamento do anúncio das medidas de estímulos desejadas por Temer teve — e muito — o dedo da Fazenda. A equipe de Meirelles não poupou críticas à pressa do governo em dar estímulos à atividade. O argumento mais usado foi o de que o país está vivendo uma crise brutal justamente porque o governo anterior fez loucuras demais para tentar tirar o Produto Interno Bruto (PIB) da UTI. Dilma acreditava que o Estado tinha força de sobra para dar as cartas. A cada medida anunciada, porém, a desconfiança dos agentes produtivos aumentava, e a economia afundava. A petista, com suas loucuras, só conseguiu colher a recessão e quebrar o Tesouro Nacional.

Boca cheia

Técnicos da Fazenda acreditam que, em algum momento, não muito distante, será possível dar incentivos à economia. Mas, antes, é preciso recobrar a confiança. É ela que permitirá às empresas retirarem das gavetas projetos de investimentos e às famílias voltarem a consumir. Para os auxiliares de Meirelles, de nada adianta dar mais crédito, cortando juros das linhas do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, se não houver tomadores. As empresas têm de acreditar que o aumento da produção será absorvido pelos consumidores. As famílias precisam ter a certeza de que não serão vitimadas pelo desemprego. O ministro da Fazenda costuma encher a boca para definir o que os agentes econômicos querem: previsibilidade.

Na queda de braço com a ala política do governo, Meirelles não tem economizado nos números ao apresentar argumentos a Temer de que a hora é de ir devagar com o andor. Ele diz que, justamente por manter os pés no chão e prometer apenas o que pode entregar, a credibilidade está voltando. Os prêmios de riscos do país caíram, as portas do mercado internacional de crédito se reabriram às empresas, o dólar tem aliviado a inflação, a bolsa de valores está no maior nível em 14 meses e, não muito distante, o Banco Central poderá dar início ao corte da taxa básica de juros (Selic).

Hoje, por sinal, o Comitê de Política Monetária (Copom) manterá a Selic em 14,25%, adotando um discurso ainda duro para mostrar ao mercado que não há leniência no combate à inflação. Quando Ilan Goldfajn assumiu o comando do BC, há quase dois meses, havia quase um consenso entre os especialistas de que os juros cairiam neste mês. Logo no primeiro discurso, Ilan empurrou as apostas para agosto. Agora, os investidores se dividem entre outubro e novembro para o início da redução da taxa básica. Há, inclusive, quem acredite que a Selic só baixará a partir de 2017.

Isso, no entender da equipe econômica, é o mais claro exemplo de que o governo está conseguindo domar as expectativas. Sendo assim, é um risco enorme ter recaídas populistas neste momento. Paciência vale ouro. “Pode ter havido frustração por parte do presidente Temer em adiar o anúncio de medidas de estímulo à economia. Mas ele entendeu que o tempo político está distante da realidade do governo. Se ele tiver paciência, colherá muito mais louros à frente do que se atropelar os fatos agora”, afirma um técnico. “A percepção é de que, pelo menos por ora, ele entendeu a lição”, emenda.

Brasília, 06h30min

Vicente Nunes