Com o IPCA tão baixo, Volpon, que hoje comanda o departamento de economia do banco suíço UBS, acredita que todos, BC, mercado, governo e políticos, encontraram o discurso ideal para que a taxa básica de juros (Selic) seja reduzida até 7% ao ano, o nível mais baixo da história. Na visão dele, além de serem um patamar de segurança para a autoridade monetária, os juros de 7% dão argumentos de sobra para os defensores da política econômica de Michel Temer.
“Banco Central reduz a projeção de inflação deste ano para 3,2%, mas economistas como Tony Volpon dizem que o custo de vida será menor. Se isso ocorrer, instituição terá que se explicar ao país”
Volpon não descarta uma Selic inferior a 7%, como preveem algumas instituições financeiras. Mas, como a economia está dando sinais claros de recuperação, o melhor seria o BC não avançar tanto o sinal para não ser obrigado a ter que subir os juros no meio das eleições de 2018. Ele ressalta que, pelas projeções do mercado, com a Selic a 7%, a inflação se manterá baixa, aproximando-se do centro da meta, de 4,5%, em 2020. No início do ano, segundo as estimativas, o IPCA só se estabilizaria nesse nível com juros entre 8% e 9%.
Para o economista, uma conjunção de fatores explica a forte queda do IPCA: a retração dos alimentos, a recessão que desempregou milhões de pessoas, a mudança na condução da política fiscal e o conservadorismo do BC no manejo dos juros. Nesse contexto, é muito provável que a inflação continue surpreendendo para baixo, a ponto de, quando dezembro chegar, o BC ter de rever novamente as suas estimativas. No relatório trimestral divulgado em junho, a instituição projetava alta de 3,8% no custo de vida. Agora, fala em 3,2%. “O BC vai errar de novo”, afirma.
Sem euforia
Volpon acredita que a retomada da economia é consistente. Tanto que prevê aumento de 3,1% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2018 ante a média de 2,2% do mercado — para este ano, prevê 0,7%, assim como o BC. O único risco para essa trajetória é a disputa à Presidência da República. Diante de um quadro eleitoral tão incerto, a probabilidade de um aventureiro assumir o comando do país é enorme. Se isso vier a acontecer, reformas importantes, como a da Previdência, serão abandonadas.
Os números mais recentes da economia endossam uma recuperação gradual da atividade. O emprego formal registrou, em agosto, o quinto mês consecutivo de alta. No acumulado do ano, foram abertos mais de 163 mil postos com carteira assinada e as contratações começam a se espraiar. Não por acaso, a Receita Federal registrou crescimento na arrecadação previdenciária. O destravamento do crédito está puxando a indústria automobilística, cujos efeitos multiplicadores são expressivos. A confiança de empresários e consumidores aponta para cima.
Não se trata de um quadro de euforia. Muito pelo contrário. É um momento de muita cautela, pois a economia está tentando se descolar da política. Qualquer evento extraordinário pode abortar todas as boas notícias. “O crescimento pode desapontar? Pode”, destaca Volpon. Esse, na opinião dele, seria um dos motivos para justificar o Banco Central a levar os juros para menos de 7%. “O meu cenário-base, no entanto, é de continuidade de melhora da economia”, enfatiza.
Corda no pescoço
No governo, o retorno de conversas de autoridades com agentes do mercado é de que a maior chance hoje é de a atividade surpreender para cima e a inflação, para baixo. É tudo o que o Palácio do Planalto quer para se contrapor à segunda denúncia de investigação contra Temer, que será avaliada pela Câmara dos Deputados. “Vamos defender o presidente com todas as forças, sempre ressaltando as conquistas na economia. Não podemos abrir mão do discurso de que o atual governo tirou o Brasil da maior recessão da história”, diz um ministro muito próximo a Temer.
Discretamente, o Palácio admite que o governo dará uma mãozinha para impulsionar a economia. Ao destravar entre R$ 8 bilhões e R$ 10 bilhões do Orçamento, o que deve ser anunciado nesta sexta-feira, ampliará os gastos. Nos primeiros seis meses do ano, o governo jogou contra o PIB em termos de consumo. “Agora que aumentamos a meta fiscal para um deficit de até R$ 159 bilhões, vamos tirar a corda do pescoço. Sem extravagância, é claro”, afirma o mesmo ministro.