Coluna no Correio: BC cortará juros em um ponto percentual

Compartilhe

ANTONIO TEMÓTEO

O Banco Central (BC) sinalizou após a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que cortaria os juros em 0,75 ponto percentual. A indicação era uma resposta ao agravamento da crise política, com o envolvimento do presidente da República, Michel Temer, na delação de executivos da J&F. Passados mais de um mês, a equipe de Ilan Goldfajn já coloca em prática estratégia para mudar a percepção do mercado em relação a que decisão tomará. Na prática, indicarão que a queda da taxa será de um ponto percentual.

Ontem, a oitava edição da publicação Conexão Real com o BC destacou que após o Conselho Monetário Nacional (CMN) reduzir as metas de inflação de 2019 e 2020 para 4,25% e 4%, respectivamente, a mediana das expectativas do mercado seguiu para os mesmos patamares. A autoridade monetária destacou que, na prática, a revisão das projeções indica que os analistas do mercado financeiro acreditam que a autoridade monetária conduzirá a inflação para a meta.

Não só a equipe de Ilan Goldfajn, mas outras que passaram pelo BC, usaram do mesmo expediente para sinalizar alterações na política monetária. Expectativas ancoradas e rápidas reações de mercado que incorporaram o cenário do BC são levados em conta pelos membros do Copom para reduzir a taxa de juros. Mais do que isso, mesmo após o agravamento da crise política, os preços de ativos no Brasil não sofreram grandes oscilações, sobretudo o dólar. Um eventual encarecimento da moeda nos mesmos patamares experimentados no último ano do governo Dilma Rousseff poderia frear o ciclo de cortes. Entretanto, não há perspectiva de curto prazo que sinalize que isso ocorrerá.

O excesso de liquidez global e as crises políticas na maioria das economias emergentes têm levado os investidores a tolerar mais riscos em troca de rentabilidade maior. O prêmio de risco que é pago no Brasil, balizado pela Selic em 10,25%, ainda garante retornos significativamente superiores a países europeus, onde os juros, em alguns casos, estão negativos. Outro indicador que poderia sinalizar fuga de capitais do país é o desempenho da Bolsa de Valores de São Paulo (B3). Com 50,1% de investidores estrangeiros, o Ibovespa se mantém estável.

Além disso, a economia mantém sinais de que a recuperação será lenta e o nível de desemprego continuará a favorecer o processo de queda da inflação. Na prática, não existem ameaças para que o BC continue o ritmo de cortes da Selic. O chefe adjunto do Departamento de Política Econômica do BC, Renato Baldini, foi escalado pela autoridade monetária para emitir alguns sinais de que a queda de juros continuará na mesma intensidade.

Conforme ele, os agentes econômicos têm percebido o compromisso do BC em conter a inflação, o que explica o efeito sobre as expectativas de mercado. Baldino ressalta que é muito importante balizar e coordenar as expectativas futuras de acordo com as ações realizadas no presente, porque elas influenciam a carestia. A publicação da autoridade monetária ainda informa que a redução da meta deve possibilitar inflação e juros nominais mais baixos.

A próxima reunião do Copom ocorrerá em 25 e 26 de julho. Até lá, a equipe de Goldfajn terá tempo suficiente para mudar de discurso e sinalizar a manutenção do ritmo de cortes. Os mais otimistas estimam que o ciclo, que se estenderá ao longo de 2018, levará a Selic para 7,5% ou 7,25%. Somente eventos extremos internos ou choques externos podem alterar esse caminho, avaliam analistas de mercado. A equipe econômica, que ainda conta com a chefia do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem sido o fiel da balança desse processo, já que as reformas seguem engavetadas e Temer só pensa em garantir sua permanência no Palácio do Planalto até 31 de dezembro de 2018.

Brasília, 06h48min

Vicente Nunes