Coluna no Correio: Alívio, mas nem tanto

Publicado em Economia

A equipe econômica está confiante de que a inflação entrou em rota irreversível de queda. Ainda que a taxa de julho, que será divulgada na próxima quarta-feira, mostre elevação em relação ao mês anterior — as projeções apontam para alta de 0,41% contra 0,35% de junho —, a perspectiva é de que, a partir de agora, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caminhe, sistematicamente, para o centro da meta, de 4,5%. O desejo maior do governo é de que, ainda em outubro, no máximo, em novembro, o Banco Central comece a cortar a taxa básica de juros (Selic), que está em 14,25% ao ano.

 

No mercado, porém, há divergências quanto à velocidade da queda do IPCA. Na opinião do economista Carlos Thadeu Filho, da consultoria MacroAgro, os alimentos continuarão dando dor de cabeça por mais alguns meses e o peso da inércia (inflação passada) ainda se fará presente nos cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Não creio que o BC terá sucesso em levar os índices de preços para 4,5% até o fim de 2017, como promete”, diz. “Pelas minhas contas, o IPCA tende a fechar o próximo ano entre 5,8% e 6%”, acrescenta.

 

Para Thadeu, é natural que a autoridade monetária adote um discurso otimista quanto ao custo de vida. Mas entre desejo e realidade há uma boa distância. No entender dele, o IPCA só cairá para 4,5% se o BC deixar o dólar recuar até os R$ 3 e manter a moeda nesse patamar por um bom período. “Com a moeda norte-americana nesse nível, é possível, sim, pensar em inflação na meta no ano que vem”, afirma. Resta saber, porém, se o time comandado por Ilan Goldfajn ficará assistindo o derretimento da divisa dos Estados Unidos sem fazer nada.

 

Há uma pressão do empresariado para que o BC intervenha com maior força no câmbio e evite que o dólar fique abaixo de R$ 3,30. As queixas, já endereçadas ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, são de que as atuações da autoridade monetária, comprando a moeda no mercado futuro por meio de contratos de swap reverso, têm sido insuficientes para evitar uma indesejável valorização do real, que pode prejudicar a recuperação das exportações. O presidente do BC já avisou que o câmbio no Brasil é flutuante. É o mercado que determina as cotações da moeda.

 

Paciência é bom

 

Na avaliação de Maurício Molan, que projeta alta de 0,46% para o IPCA de julho, a abertura do índice deve revelar um comportamento mais benigno dos preços. “A escalada do custo de alguns alimentos, que impactou significativamente o resultado do último IPCA-15, parece estar perdendo força. Esperamos uma relevante desaceleração de preços para os diversos tipos de feijão, além de forte queda no valor de tubérculos, raízes e legumes”, afirma. “Além disso, tanto carnes quanto frutas devem continuar no terreno deflacionário, a despeito da aceleração sugerida pela sazonalidade de tais produtos”, emenda.

 

Outro fator que puxará a inflação para baixo, segundo Molan, será a retração de preços administrados (tarifas públicas, sobretudo). “Projetamos deflação para a energia elétrica e leve contração nos preços de combustíveis. Com isso, a inflação acumulada em 12 meses cairá de 8,84% para 8,68%, em direção à nossa projeção de 7,5% para o fim de 2016”, frisa. O economista trabalha com um IPCA acima de 5% para o ano que vem.

 

Nas projeções do Ministério da Fazenda, é possível que o IPCA ceda para 4,5% no acumulado de 12 meses antes do fim de 2017. Essa estimativa está baseada na perspectiva de que o Congresso aprovará, até dezembro próximo, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o aumento dos gastos públicos à inflação do ano anterior. “As expectativas do mercado embutem as incertezas fiscais. Mas, tão logo as dúvidas sejam dissipadas, veremos uma inflação mais limpa, que ficará bem próxima do centro da meta”, ressalta um auxiliar de Meirelles. Ele acredita que os juros podem, sim, cair ainda neste ano. Não se arrisca, porém, a dizer quanto.

 

Thadeu, da MacroAgro, diz que a BC será muito cauteloso, a despeito da ansiedade do governo. Ele crê que, na melhor das hipóteses, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduzirá os juros em 0,25 ponto percentual em novembro. “Todo mundo quer que os juros caiam — e logo. Mas um BC responsável não apressará o passo”, ressalta. Se o fizer, acredita o economista, toda a credibilidade que foi construída nos últimos dois meses se perderá rapidamente. Ou seja, será preciso paciência. Mas o que está para ser colhido poderá dar alegria a um país tão maltratado por uma recessão que insiste em não dizer adeus.

 

Brasília, 04h51min