Temer acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom) levará os juros para algo entre 7% e 7,5% até o fim deste ano. Com a taxa básica nesse patamar, aposta-se que boa parte do programa de concessões e de privatizações se tornará atraente aos olhos dos investidores. Com recursos extras garantidos, o risco de não se cumprir a meta fiscal de 2018, de deficit de até R$ 159 bilhões, ficará bem menor. Não passa pela cabeça de integrantes da equipe econômica emitir mais um recibo de incapacidade de cumprir o que prometeu. Bastou o vexame deste ano.
A queda de pelo menos mais um ponto nos juros é tiro certo. A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá ficar abaixo de 3% no acumulado de 12 meses até outubro, movimento que pode, inclusive, se repetir em novembro. O IPCA só não será inferior ao piso da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) neste ano por causa dos recentes aumentos da gasolina e da conta de luz. Pelo sistema de metas, a inflação pode variar entre 3% e 6%, sendo que o alvo central é 4,5%.
O quadro inflacionário está tão positivo que boa parte dos economistas vem reduzindo as projeções de inflação para agosto e para este ano. Em vez de um índice mais próximo de 0,5% para este mês, por causa dos preços administrados, acredita-se que o custo de vida ficará em torno de 0,3%. A se confirmar tal estimativa, o IPCA encerrará 2017 entre 3% e 3,2%, taxa sem precedentes em mais de uma década. Foi o efeito devastador da recessão que levou o consumo a nocaute.
Reajustes salariais
Os economistas, inclusive do governo, acreditam que, com inflação tão baixa, os sindicatos perderão parte dos argumentos para exigir reajustes salariais muito altos. Entre agosto e novembro, ocorrem as negociações coletivas de categorias muito organizadas, como a dos bancários, dos metalúrgicos e dos petroleiros. Aumentos contidos nos contracheques significam repasses menores para os preços e crescimento moderado do consumo. É uma visão terrível, mas que, para o Banco Central, é garantia de que o manejo do IPCA será mais fácil.
O BC, por sinal, defende que, em vez de olharem para a inflação passada, os sindicatos mirem, nas negociações salariais, as expectativas futuras do IPCA. Seria uma ajuda e tanto para reduzir o que os especialistas classificam de inércia — carregamento da variação passada do custo de vida para os preços futuros. Com a atividade no chão, o espaço para a transferência de qualquer custo para o valor de serviços e mercadorias se fechou quase que por completo. À medida, porém, que a economia for se recuperando, indústria e comércio ficarão mais compelidos a ampliar as margens de lucro.
Nessa questão salarial, o BC também conta com os efeitos da terceirização e da reforma trabalhista para evitar bolhas no mercado de trabalho, como as vistas antes de o país ficar de joelhos e de o número de desempregados passar dos 14 milhões. A flexibilização nas regras de contratação fará com que o índice de desocupação diminua, mas sem provocar saltos espetaculares no consumo. Outro ponto importante que tranquiliza a autoridade monetária é a perspectiva de uma nova supersafra agrícola, que manterá os preços dos alimentos em baixa. E um dólar girando perto dos R$ 3,20.
Ou seja, acreditam auxiliares de Temer, o BC tem, diante de si uma oportunidade única para derrubar os juros a níveis mais civilizados, sem o risco de repetir o pesadelo de 2012 e 2103, quando a Selic cedeu para 7,25%, mas, seis meses depois, voltou a subir por causa dos descontrole inflacionário. Um grupo mais otimista do Planalto diz que, nesse contexto, os juros poderiam cair para até 6% ao ano. Mesmo nesse patamar, a política monetária manteria a eficiência para conter a inflação, pois a entrada em vigor da Taxa de Longo Prazo (TLP) acabará com as distorções hoje existentes no mercado de crédito.
Portas abertas
Confirmado o corte de um ponto na Selic na próxima quarta-feira, o BC manterá as portas abertas para novas quedas, mas sem se comprometer com um nível específico. A tendência da autoridade monetária será incentivar o mercado a construir o cenário para os rumos dos juros. Tudo o que o time comandado por Ilan Goldfajn não quer é indicar um caminho e, depois, ter de recuar. Já basta o presidente Temer mudar de posição de acordo com o nível da gritaria contrária.
Quanto ao discurso da importância das reformas, sobretudo a da Previdência, para derrubar a taxa básica, o BC dirá que elas são importantes para a consolidação, a longo prazo, de uma política monetária menos restritiva. Neste momento, o peso maior para se levar a Selic aonde quer o governo virá da inflação. E ponto.