De acordo com Luis Felipe Vital, coordenador-geral de Operações da Dívida Pública do Tesouro, com o aumento expressivo de emissões líquidas em fevereiro, o colchão da dívida pública passou de R$ 806 bilhões para R$ 933 bilhões entre janeiro e fevereiro, o maior patamar em 12 meses. “Esse volume é suficiente para mais de seis meses de vencimentos à frente”, garantiu Vidal, nesta quarta-feira (24/03), durante a apresentação virtual a jornalistas do relatório mensal da dívida pública. Segundo ele, no mês passado, o Brasil teve aumento na percepção de risco “bastante alinhada” com seus pares emergentes.
O volume de emissões da Dívida Pública Federal (DPF) somou R$ 177,96 bilhões em fevereiro, o segundo maior volume de emissões e o melhor mês de fevereiro da série histórica, de acordo com Vital. Descontados os resgates, de R$ 66,46 bilhões, a emissão líquida somou R$ 111,5 bilhões, a terceira maior emissão líquida da história, superada pelos meses de novembro e dezembro de 2020, segundo Vital.
O técnico destacou que o Tesouro iniciou a rolagem antecipada em 2021 ajudou a ampliar o volume de emissões para o melhor mês da história, segundo Vital. Em fevereiro, realizou vários leilões onde trocava os títulos vincendo por Letras Financeira do Tesouro (LFTs), indexadas à taxa básica de juros (Selic), mais longas e conseguiu reduzir R$ 46,37 bilhões de leilões antecipados, e, com isso, a “torre de maturação” caiu de R$ 184,4 bilhões para R$ 138,5 bilhões.
Conforme os dados do Tesouro, os meses de março, abril e maio de 2021 concentrarão vencimentos estimados em R$ 581,2 bilhões. “Esse volume de vencimentos é bastante expressivo e, dada a piora no cenário interno, é provável que o Tesouro tenha dificuldade para realizar emissões em volume expressivo”, alertou o economista Sergio Goldenstein, consultor independente da Ohmresearch Independent Insights. “Fevereiro teve um aumento discreto nas taxas de juros dos títulos prefixados, mas março está mais significativo e essa abertura foi intensificada após a decisão do Banco Central em elevar a Selic (taxa básica da economia) em 0,75 ponto percentual e soltar um comunicado duro. Isso pode gerar uma dinâmica ruim nas próximas semanas, o que reduziria o espaço para o Tesouro fazer emissões significativas. A tendência é que haja um aumento da participação relativa dos títulos pós-fixados, as LFTs”, comentou.
Estoque crescente
O volume de títulos da União emitidos nos mercados interno e externo e que compõem o estoque da DPF registrou crescimento de 2,7% em relação ao mês anterior, totalizando R$ 5,198 trilhões, conforme dados do Tesouro Nacional divulgados hoje. Esse aumento equivale a R$ 139,2 bilhões, dos quais R$ 111,5 bilhões foram emissões líquidas e R$ 27,7 bilhões referentes à apropriação de juros.
No mês passado, o estoque da Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFI) cresceu 2,67%, totalizando R$ 4,821 trilhões. Enquanto isso, a DPF externa cresceu 4,22%, encerrando fevereiro em R$ 247,9 bilhões.
O órgão informou que o custo médio das emissões em oferta pública da DPMFi apresentou aumento de 4,6%, em janeiro, para 4,7% em fevereiro. Enquanto isso, o custo médio do estoque da DPF no acumulado em 12 meses apresentou redução de 8,3% ao ano para 8,1%, entre janeiro e fevereiro, sendo que o da DPMFi manteve-se em 7,2% ao ano, o menor da série. Contudo, essa diminuição do custo médio do estoque é explicada pela queda do custo da DPFe, que encolheu 35% para 29,7% ao ano, segundo dados do relatório do Tesouro.
Custos de emissões
Apesar de os custos das emissões terem apresentado leve crescimento em fevereiro na média, Vidal reconheceu que, em março, as taxas de juros dos papeis da União estão em alta devido ao cenário mais turbulento com a piora no cenário interno devido ao agravamento da pandemia no país. Contudo, ele tentou minimizar o problema e classificou que não é uma tendência, apesar de o Banco Central ter iniciado um novo ciclo de alta na taxa básica da economia, a Selic, que pode encerrar o ano entre 4,5% e 5,5% ao ano, pelas previsões do mercado.
“Março foi um mês com um pouco de mais turbulência nos mercados e de elevação das taxas de juros. Podemos observar custos maiores sim. Mas não significa uma tendência”, disse.
Vital evitou fazer projeções para o aumento do custo da dívida com a Selic maior e com a inflação em alta e garantiu que os custos estão dentro das previsões do Plano Anual de Financiamento (PAF).
Devoluções do BNDES
O técnico ainda informou que o Tesouro trabalha com um cronograma de devoluções dos aportes da União no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que somam R$ 100 bilhões e que devem ajudar a reduzir a necessidade de emissões ao longo do ano.
“Estamos trabalhando com esse cenário. Já entraram R$ 38 bilhões em março e aguardamos os R$ 62 bilhões restantes que devem ocorrer ao longo de 2021. Esse é o cenário que temos hoje par ao BNDES”, afirmou.
Conforme os dados do Tesouro, os títulos indexados à taxa básica de juros, as LFTs, tiveram redução de 35,3% para 34,8% da DPF, entre janeiro e fevereiro. A participação dos títulos prefixados, conhecidos como Letra do Tesouro Nacional (LTN), aumentaram a participação de 33,7% para 34,4%, na mesma base de comparação. A fatia dos papeis atrelados ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, teve leve recuo, passando de 26% para 25,8%.
Com relação aos detentores, o grupo Instituições Financeiras permaneceu como o maior credor da União, detendo 30,2% do estoque da DPMFi. O segundo maior grupo de detentores foram os Fundos de Investimento, com 25,1% do bolo. Em relação ao estoque, as principais variações foram Instituições Financeiras (R$ 61,5 bilhões) e Previdência (R$ 21,8 bilhões). Até o mês de fevereiro, o estoque de não residentes apresentou crescimento de R$ 26,5 bilhões, cuja participação passou de 9,3% para 9,4%, entre janeiro e fevereiro.