Clima de tensão política faz dólar disparar e BC é obrigado a intervir

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ROSANA HESSEL

O clima de tensão entre o governo e o Legislativo deu curto circuito nos mercados e fez o dólar disparar, chegando a R$ 5,30, nesta quinta-feira (8/7), o que fez o Banco Central a intervir anunciando novo leilão.

O Banco Central realizou um leilão inesperado de US$ 500 milhões de contratos de swap cambial para segurar o dólar frente ao real. A moeda norte-americana bateu máxima a R$ 5,2950 no mercado à vista e era negociado a R$ 5,3090 para agosto pela manhã enquanto as trocas de farpas entre governo e parlamentares ganhava contornos preocupantes na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia no Senado Federal. Por volta das 13h30, a divisa norte-americana tinha recuado para R$ 5,223, com queda de 0,15%.

Enquanto isso, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) abriu em queda em torno de 1% mas chegou a cair quase 1,7% pouco antes das 12h, acompanhando os temores dos investidores internacionais em relação à retomada da economia global diante da forte disseminação da variante Delta do novo coronavírus, que está levando os países da Europa e da Ásia a retomarem medidas de restrição.  Por volta das 13h30, registrava queda de 1,14% no Índice Bovespa, que estava a 125.570 pontos.

O estopim para essa forte oscilação no mercado foi a carta do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e comandantes das Forças Armadas repudiando as declarações do presidente da CPI da Pandemia, o senador Omar Aziz (PSD-AM). O documento gerou críticas, principalmente, de especialistas na área de defesa por ser incomum esse tipo de posicionamento da caserna. E, para piorar, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) partiu para o ataque aos senadores da CPI novamente, levantando discussões sobre a fragilidade do regime democrático brasileiro no meio acadêmico. Aziz classificou a reação das Forças Armadas uma forma de intimidação.

“Essa disparada do dólar teve um componente mais doméstico, por conta das incertezas na área política em torno da CPI da Covid, que já teve até prisão de testemunha. Isso acelerou o olhar externo e fez o Banco Central intervir no câmbio, o que acalmou um pouco os agentes do mercado e segurou a alta do dólar para mais perto de R$ 5,20”, explicou Lucas Schroeder, diretor de operações da Câmbio Curitiba. “Alguns especuladores também aproveitaram o câmbio mais alto, realizando lucro, e isso ajudou a fazer o dólar cair também”, acrescentou.

Na avaliação do especialista, esse clima de tensão política e a aproximação das eleições em 2022 deverá manter o dólar valorizado, mas com bastante volatilidade. “As incertezas por conta da variante Delta e a parte política interna por conta do delta e a parte política pré-eleitoral deve influenciar a variação do dólar que vai oscilar bastante daqui para frente”, afirmou.

Vale lembrar que, no mês passado o dólar vinha recuando por conta da sinalização do Banco Central em dar um aperto monetário mais forte por conta da inflação, o que ajudou aumentar o fluxo de entrada da divisa norte-americana no país, que chegou a ser negociada pela primeira vez no ano abaixo de R$ 5.

Vicente Nunes