Bradesco melhora projeções do PIB e passa prever alta de 2,7% em 2023

Compartilhe

ROSANA HESSEL

Após as surpresas com o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre a onda de revisões continua, e, nesta terça-feira (5/9), foi a vez do Banco Bradesco divulgar as novas projeções para a economia deste ano e do próximo, mas manteve as previsões de rombo nas contas públicas.

A equipe de analistas liderada pelo diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Fernando Honorato, revisou de 2,1% para 2,7%, a estimativa de crescimento do PIB de 2023, e elevou de 1,5% para 2%, a projeção para o avanço do PIB de 2024. Essas novas perspectivas para o estão mais otimistas do que a mediana das estimativas  do boletim Focus, divulgado pelo Banco Central ontem, de altas de 2,56%, em 2023, e de 1,32%, em 2024.

O PIB avançou 1,8%, entre janeiro e março, e, desacelerou para uma alta 0,9%, entre abril e junho, conforme os dados revisados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados na última sexta-feira (1º/9). Os resultados superaram as expectativas e fizeram analistas revisarem para cima as estimativas, com algumas chegando a 3,50%, para o PIB deste ano.

De acordo com Honorato, será mais difícil novas surpresas daqui para frente no PIB, porque não haverá força das commodities que turbinaram a agropecuária. “O PIB do segundo trimestre surpreendeu novamente. Diante da expectativa de uma expansão de 0,5%, as surpresas vieram, essencialmente, de uma melhor performance da agropecuária e do consumo das famílias. Neste segundo semestre, entretanto, os dados conhecidos de atividade e da  nossa Pesquisa Empresarial apontam para uma desaceleração gradual. Alteramos nossa projeção de crescimento do PIB deste ano de 2,1% para 2,7%”, destacou o relatório do Bradesco divulgado aos clientes.

De acordo com o documento, para 2024, como o mercado de trabalho tem surpreendido, os analistas incorporaram ao cenário uma taxa de desemprego mais baixa. “A melhora da estimativa de emprego e da população ocupada deve continuar auxiliando a massa de renda e o consumo das famílias nos próximos trimestres. A consequência dessa revisão foi a elevação do PIB de 2024 para 2,0%, mantendo o hiato do produto em patamar semelhante ao anteriormente projetado”, informou o texto.

Pelas projeções do Bradesco, a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deverá encerrar o ano em 4,8%, mesma projeção do mês passado, recuando para 3,6% em 2024.  Na avaliação dos analistas, o ritmo de ajuste da política monetária, iniciado pelo Banco Central no início de agosto, deverá ser mantido.

Na última reunião,  nos dias 1 e 2 de agosto, o Comitê de Política Monetária reduziu a taxa básica da economia (Selic) em 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano, e, de acordo com o relatório da instituição financeira, as projeções para a taxa básica foram mantidas em 11,75% anuais, passando para 9,25% no fim de 2024.

Os analistas do Bradesco demonstraram preocupação com o cenário externo, especialmente com o crescimento da China, que foi revisado para baixo, diante das surpresas negativas do país asiático. “A frustração com os dados foi
generalizada e aprofundou as quedas exibidas no mês anterior. Ao mesmo tempo, as medidas anunciadas pelo governo até o momento não têm a mesma expressividade daquelas adotadas no passado. Como resultado, incorporamos às nossas projeções o risco crescente de o governo não cumprir a meta de 5,0% para o PIB deste ano – revisamos o crescimento de 5,5% para 4,8% em 2023 e de 5,0% para 4,4% em 2024”, informou o relatório.

Quadro fiscal desafiador

No quadro fiscal, o foco segue nas medidas do governo federal com objetivo de zerar rombo das contas públicas no próximo ano, algo improvável pelas estimativas do Bradesco que manteve em 0,9% e em 0,7% do PIB as projeções de deficit primário neste ano e no próximo, respectivamente.

O relatório do Bradesco lembrou que o Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) de 2024, trouxe uma estimativa de aumento real próximo de 11% das receitas, com base em medidas que ainda precisam ser negociadas com o Congresso e, portanto, “têm um potencial arrecadatório bastante incerto”.

“Os dados correntes, em geral, não trouxeram surpresas substanciais no último mês. Além disso, algumas medidas de ganho de receita esperadas para este ano estão demorando para se concretizar, o que aumenta o risco sobre as projeções fiscais de 2023 e 2024. Mesmo com maior crescimento da economia em 2024, as receitas já sofrem os efeitos de um menor deflator e há desafios em se levantar arrecadação extra”, acrescentou o estudo. Pelas estimativas da instituição, o cenário fiscal ainda depende da materialização de algumas das medidas de receitas apresentadas pelo governo. Pelas estimativas do banco, a dívida pública bruta deve encerrar o ano em 76,1% do PIB.

Em relação às contas externas, a instituição revisou a expectativa de deficits em conta corrente para 1,6% do
PIB em 2023 e para 2,3% em 2024, “amplamente financiados pelo investimento estrangeiro direto, de
3,0% do PIB para os dois anos”.  “A última divulgação do Balanço de Pagamentos trouxe revisão dos dados,
mas sem impacto na perspectiva benigna para as contas externas. Nossa revisão foi pautada pela balança
comercial, que segue apresentando um excelente desempenho, com a quantidade exportada mais do que
compensando a queda de preços”, destacou o documento. A expectativa para o saldo da balança comercial é de um superavit recorde de US$ 71 bilhões. Com isso, a projeção para o câmbio é que o dólar continuará oscilando em torno de R$ 4,80 até o fim de 2024, “ainda que a perspectiva para o cenário externo tenha se deteriorado nas últimas semanas”.

Veja o quadro com o comparativo das novas projeções do Bradesco

Vicente Nunes