ROSANA HESSEL
Parece ironia, mas a mesma inflação que está corroendo a renda dos brasileiros e deixando até o pãozinho e a cenoura proibitivos na mesa da maioria da população deve ajudar o país a crescer um pouco mais do que o esperado.
O banco Bradesco acaba de revisar de 0,5% para 1% a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, mas revisou de 6% para 6,9% a perspectiva para a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumulada no fim do ano. “A atividade econômica vem mostrando resiliência neste primeiro trimestre de 2022. Acreditamos que essa dinâmica é capaz de induzir um crescimento ao redor de 1% neste ano, a despeito dos efeitos da inflação sobre a renda”, destacou o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato.
A meta de inflação deste ano, determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3,5%, com teto de 5%. Para 2023, a previsão de 0,5% de avanço do PIB foi mantida, mas a expectativa para o IPCA no próximo ano passou de 3,5% para 3,9%, também acima da meta, de 3,25%, mas ainda abaixo do teto de 4,75%.
“Decorrido pouco mais de um mês do início do conflito na Ucrânia, os efeitos para o Brasil são ambíguos. De um lado, o menor crescimento global, a elevação da inflação e os potenciais problemas na importação de fertilizantes sugerem um menor crescimento e preços mais elevados no médio prazo. De outro, o ganho de termos de troca em um contexto de baixos riscos de solvência favorece a apreciação da moeda, melhora das contas públicas e menor aversão ao risco, que atuam na direção de maior crescimento e mitigação de riscos inflacionários. Nesse contexto, o efeito líquido deve ser mais crescimento, inflação e juros”, afirmou.
Pelas estimativas do analista, o Banco Central deverá encerrar o ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 11,75% ao ano, em 12,75%. “Mas o contexto de inflação mais pressionada exigirá juros médios elevados por mais tempo. Assim, postergamos o início do ciclo de corte de juros para o segundo trimestre de 2023 e elevamos a projeção para a taxa terminal do próximo ano para 9%. Para a taxa de câmbio, efeitos também ambíguos nos levam a prever o dólar a R$ 5,10 para o final do ano, neste momento”, acrescentou.
Honorato e sua equipe mantiveram em 12,75% anuais a estimativa para a Selic, no fim deste ano, e elevou a previsão para a taxa básica encerrando 2023 em 8,5% ao ano para 9%. A expectativa de crescimento global neste ano foi revisada de 4% para 3,5%. E, para 2023, a taxa esperada passou de 3,4% para 3,2%.