ROSANA HESSEL
Apesar de manter as projeções de crescimento da economia brasileira estáveis no cenário base, tanto para este ano quanto para o ano que vem, o Bradesco reforçou o alerta em relação ao equilíbrio fiscal, que dependerá da política econômica do próximo governo.
“O principal tema do cenário doméstico será a política fiscal dos próximos anos. A prorrogação do Auxílio Brasil requer cerca de R$ 50 bilhões em 2023. Esse valor não cabe dentro do teto de gastos, por isso, a necessidade de aprovação de uma exceção à regra”, destacou o relatório mensal da equipe liderada pelo economista Fernando Honorato, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, nesta quarta-feira (16/11), em referência à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que deverá ser apresentada pela equipe de transição para manter os R$ 600 do Auxílio Brasil, programa que deu lugar ao Bolsa Família, cujo nome será retomado no governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
O banco manteve em 2,7% a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), neste ano, e, em 2023, em 0,5%. “Há sinais de desaceleração no segundo semestre, com menor crescimento registrado nos dados do 3º trimestre, sobretudo na indústria. Nossas pesquisas internas indicam nova desaceleração no 4º trimestre. Os dados de mercado de trabalho também têm confirmado uma desaceleração no número de contratados, ainda que prossigam em nível elevado”, destacou o documento.
Essas estimativas do PIB brasileiro do relatório de novembro são as mesmas feitas em outubro. A entidade reforçou o alerta de desaceleração na economia, diante da perspectiva de aperto monetário mais forte nos países desenvolvidos, que deve fortalecer o dólar; e de uma China crescendo, no máximo, 3%, neste ano, devido aos efeitos de política de tolerância zero contra a covid-19. No próximo ano, o Bradesco prevê alta de 5% no PIB chinês.
No cenário projetado pelo Bradesco, considerando o gasto adicional do auxílio de R$ 600, assim como a manutenção da isenção de PIS-Cofins sobre combustíveis, levando a um deficit primário de R$ 38,5 bilhões, ou 0,4% do PIB, nas contas do setor público consolidado. Para este ano, o banco prevê superavit primário de R$ 113 bilhões nas contas do setor público consolidado. As estimativas não foram alteradas em relação às de outubro.
O Bradesco também não modificiou as previsões para a taxa básica da economia (Selic) no fim de 2023, em 11,75% anuais. Atualmente, a taxa básica está em 13,75% anuais – mesmo patamar que o banco e o consenso do mercado prevê até o fim do ano e, provavelmente, até a primeira metade do ano que vem. A estimativa para o ano de 2022 para a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), não sofreu alteração e foi mantida em 5,7%. “Além do efeito baixista da redução dos impostos, também notamos desaceleração dos bens industriais no varejo e no atacado, refletindo melhora das cadeias globais e queda de preços de insumos. Ainda assim, a inflação de serviços segue demandando atenção”, explicou o comunicado.
O documento destacou ainda que, apesar da volatilidade dos últimos dias, o Real ainda apresenta uma das melhores performances em 2022. “Os fundamentos externos seguem sólidos, mas há perspectiva de recessão global. Esse ambiente manterá certa pressão sobre as moedas emergentes. É um contexto geral que aumenta a importância da discussão fiscal”, destacou o texto mantendo, “por ora”, as expectativas para o dólar deste ano e no próximo em R$ 5,25.
Projeções globais
Pelas estimativas do Bradesco, o Brasil crescerá menos do que o mundo e do que seus vizinhos, pois o avanço médio do PIB global será de 2,9%, neste ano, e de 2,4%, no ano que vem. Os países emergentes devem crescer 3,3% e 3,9%, respectivamente. O PIB da Argentina deve crescer 3,6%, neste ano, e 0,8%, em 2023. Já o Chile crescerá menos do que Brasil, sendo 2% e -1%, na mesma base de comparação.