Estão completamente articulados os discursos do presidente Jair Bolsonaro, do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do ministro da Economia, Paulo Guedes, em favor da privatização da Petrobras. Nos últimos dois dias, os três afirmaram a mesma coisa: o desejo de vender o controle da estatal à iniciativa privada.
O argumento é o mesmo: a alta dos preços dos combustíveis. No entender de Bolsonaro, Lira e Guedes, se a Petrobras for privatizada, tanto a gasolina quanto o diesel e o gás de cozinha ficarão mais baratos. Mas isso é uma falácia. Nas mãos da iniciativa privada, a petroleira manteria a política de equiparação de preços aos do mercado internacional.
Mais do que isso, privatizada, a Petrobras reajustaria ainda com maior frequência os preços dos combustíveis. Não custa lembrar que os mais recentes aumentos da gasolina, do diesel e do gás de cozinha ocorreram depois de mais de 60 dias, em média, de congelamento.
O atual comando da Petrobras só está repassando a alta do dólar e do petróleo no exterior aos preços internos depois de muita pressão. Para não incomodar o Palácio do Planalto, a estatal mantém uma certa defasagem nos preços praticados nas refinarias. Privatizada, isso jamais ocorreria na Petrobras.
Para Bolsonaro, que sempre foi refratário à venda da Petrobras, a privatização seria uma forma de ele encontrar um discurso de que a culpa pela alta dos preços é da iniciativa privada. Ou seja, ele teria para quem jogar a culpa, fazendo-se de inocente.
Mas que fique claro: não há a menor possibilidade de a Petrobras ser privatizada no atual governo, por causa das resistências dentro do Congresso e por falta de tempo. Mas o tema pode ser uma das bandeiras de Bolsonaro à reeleição. Resta saber como os eleitores vão reagir a uma proposta tão polêmica como esta.
Brasília, 10h51min