Crédito: AFP

Bolsonaro, ao celebrar suspensão de testes de vacina, põe reeleição acima da saúde da população

Publicado em Economia

O presidente Jair Bolsonaro deu mostras claras de seu desprezo pela saúde da população ao comemorar a suspensão dos estudos da vacina CoronaVac, uma parceria do Instituto Butantan com o laboratório chinês Sinovac. A interrupção não aconteceu por questões técnicas, mas políticas. Bolsonaro só está preocupado com a sua reeleição.

 

A politização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está clara. A decisão de suspender os estudos da CoronaVac não está compatível com as regras mundiais. É verdade que houve um evento de natureza grave com um dos participantes dos testes, mas a Anvisa havia sido comunicada em 6 de outubro de que o fato era externo aos testes, ou seja, não tinha ligação direta com a vacina.

 

Na manhã desta terça-feira (10/11), Bolsonaro afirmou que, diante da interrupção dos estudos, “ganhou” mais uma disputa contra o governador de São Paulo, João Dória, que vem ressaltando o sucesso da Coronavac no combate à covid-19.

 

“Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O Presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, escreveu Bolsonaro em resposta a um seguidor dele no Facebook.

 

Saúde da população em risco

 

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, garante que o evento que teria levado a Anvisa a suspender os testes com a Coronavac nada tem a ver com a vacina. Ele diz que não pode dar mais detalhes públicos, por causa do sigilo das pesquisas. É preciso, segundo ele, preservar a família da pessoa que teria morrido (ele não confirma, mas teria sido por suicídio).

 

Como presidente do Brasil, Bolsonaro deveria lamentar a interrupção dos testes — que também aconteceu com a vacina testada pela Oxford e pela AstraZeneca, mas por decisão dos pesquisadores —, pois isso atrasa ainda mais a perspectiva de se ter um imunizante contra o novo coronavírus.

 

É preciso ressaltar a gravidade da pandemia, que, infelizmente, até hoje Bolsonaro não entendeu. Para todo mundo, é melhor que tenhamos uma vacina logo, pois isso pode conter os efeitos de uma eventual segunda onda de covid-19 e evitar um novo tombo na economia.

 

Bolsonaro, ao politizar a vacinação contra a covid, dá mais um péssimo exemplo. Para ele, na guerra por mais quatro anos de poder, vale colocar a saúde da população em risco. Não custa lembrar que o Instituto Butantan, que o presidente tenta desqualificar, tem mais de 110 anos de tradição e produz 75% de todas as vacinas tomadas com toda a segurança pelos brasileiros.

 

Brasília, 10h34min