ROSANA HESSEL
Depois do feriado de Tiradentes, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) não ficou imune às declarações de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que sinalizou um aperto monetário mais forte nos juros norte-americanos, que derrubaram as bolsas internacionais e fizeram o dólar ganhar força sobre as moedas emergentes.
O Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, abriu o pregão desta sexta-feira (22/4) em queda, e, às 13h58, estava em 111.760 pontos, patamar 2,26% abaixo dos 114.343 da aberturo. Cerca de uma hora antes, tinha atingindo a mínima de 111.606 pontos, ou seja, tombo de 2,39%. Enquanto isso, o dólar subia 3,7% frente ao real e era cotado a R$ 4,79 para a venda.
Marcos Ross, economista-chefe do banco Haitong no Brasil, destacou que o efeito maior sobre o câmbio agora é o diferencial menor de juros entre o Brasil e os Estados Unidos. “É bem provável que o Fed suba os juros de forma mais contundente depois de ficar atrás da curva por um bom tempo. O juro dos títulos norte-americanos de 10 anos sobe forte agora e, ao mesmo tempo, o Banco Central brasileiro tem adotado um discurso mais dovish (menos agressivo com a inflação)”, afirmou.
Ross lembrou que os discursos dos presidentes dos bancos centrais no encontro anual de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, mexeram com os mercados nesta semana. “O Powell disse que considera apropriado que o Fed aja em um ritmo ‘um pouco mais rápido’ e reiterou que um aumento de 50 pontos-base seria uma opção na próxima reunião de política monetária a ser realizada em maio. Segundo ele, a expectativa era de que a inflação chegasse mais ou menos agora, o que acabou não se concretizando em meio aos efeitos da guerra na Ucrânia”, destacou em relatório enviado aos investidores. Por outro lado, o economista lembrou que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, adotou um tom considerado mais dovish, sinalizando que o ciclo de aperto monetário está chegando ao fim.
Na avaliação do economista, Campos Neto transmitiu “uma mensagem de tranquilidade em relação à inflação” ao reafirmar que parte da surpresa recente com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que subiu 1,62% em março em relação a fevereiro, “se deveu à antecipação do aumento da gasolina e sugeriu que o mercado tentasse decompor eventos estruturais e não estruturais”. “Ele também alertou que o mercado está prevendo um aumento mais forte nos alimentos, embora as commodities agrícolas estejam caindo em reais”, acrescentou.
Indulto polêmico
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, lembrou que, como o mercado ficou fechado ontem, a reação negativa para o dia de hoje no IBovespa em relação à perspectiva de que o Fed vai acelerar o aumento dos juros nos EUA foi maior. Contudo, ele reconheceu que o polêmico indulto do presidente Jair Bolsonaro (PL) concedido ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) após a maioria do Supremo Tribunal Federal (STF) condenar o parlamentar por desrespeitar a democracia não ajuda.
“No ano passado, em 7 de Setembro, vimos que o mercado não reage bem a esse conflito”, afirmou Cruz, em referência ao discurso de Bolsonaro ameaçando o STF. “Acho que a eleição está chegando aqui no Brasil, e, cada vez menos, vamos ver um interesse do investidor em ficar exposto na Bolsa”, afirmou.
Na avaliação de Ross, esse indulto adiciona mais risco ao cenário local. “Certamente não ajudou a valorizar o real hoje. Mas é difícil quantificar o impacto dado esse movimento mais forte nos juros. O que é possível aprender com a ação do indulto, junto com todo o pacote de bondades eleitoreiras, é que o caminho até as eleições poderá ser bastante duro para os ativos locais”, afirmou.
Cruz lembrou ainda que o cenário com juros mais elevados nos EUA ajuda a valorizar a moeda norte-americana. “O dólar está se fortalecendo contra moedas de emergentes e de países desenvolvidos. Imagino que muitas casas estejam fazendo revisões da taxa de juros americana para o fim deste ano e do próximo também”, disse.