ROSANA HESSEL
A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) encerrou o pregão desta sexta-feira com queda de 2,86% , a 117.077 pontos em um cenário turbulento — tanto internamente com aumento das tensões entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o Supremo Tribunal Federal (STF), quanto no exterior, diante da sinalização do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de que pretende fazer um aperto monetário mais forte.
Durante o dia, no entanto, a B3 chegou a registrar queda de 3,3%, chegando a 110.509 pontos. A máxima foi de 114.343 pontos. Na semana, a queda acumulada foi de 4,39%, o que contribuiu para o recuo de 7,43% no mês, mas, no acumulado do ano, o IBovespa ainda está no azul, com ganhos de 5,97% desde janeiro.
Na quinta-feira (21), o presidente do Fed, Jerome Powell, sinalizou que pode acelerar o ritmo de alta dos juros, em 0,50 ponto percentual, provocando um terremoto nas bolsas internacionais, que continuaram no vermelho hoje. Enquanto isso, o dólar voltou a se valorizar frente às moedas emergentes e o real brasileiro liderou as perdas nesta sexta-feira.
Nem mesmo o leilão de dólares no mercado à vista do Banco Central conteve a escalada da divisa norte-americana frente ao real hoje. A divisa norte-americana subiu 4%, e encerrou o pregão cotada a R$ 4,80, registrando a maior alta diária desde março de 2020.
“A narrativa do Fed veio mudando com o tempo. Parecia que o ajuste ia ser menor mas, aos poucos, a realidade foi se impondo e o Fed precisou sinalizar que vai entregar um ciclo mais forte diante de uma inflação de 8% ( no acumulado em 12 meses até março)”, destacou Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original. Segundo ele, além da questão externa boa parte da queda do Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3 é explicada por conta do polêmico indulto concedido por Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), que foi condenado por ampla maioria dos ministros do Supremo a oito anos e nove meses de prisão por praticar crimes contra a democracia.
O BC brasileiro realizou um leilão que não estava previsto, mas o volume foi baixo, de US$ 571 milhões. “A intervenção não era esperada e não ajudou a reduzir a alta do dólar, mas interrompeu a escalada do dia”, frisou Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
“Parte do movimento de queda na Bolsa e da desvalorização do real podemos creditar ao ambiente político interno, que não joga a favor dos ativos domésticos”, afirmou Caruso, do Orginal. Para ele, a mudança de fluxo de investidores é uma questão de tempo, porque a narrativa que era favorável ao Brasil, no início da guerra da Ucrânia está perdendo força. “Quando o Fed diz que vai pagar mais juros lá na frente no ajuste da política monetária, aumenta o apetite dos investidores, que devem reavaliar suas posições nos mercados emergentes. E isso vai acontecer e é uma das grandes placas tectônicas se movimentando neste ano”, alertou.
Em Nova York, o Índice Dow Jones, recuou 2,82%, e o Índice Nasdaq, das bolsas de tecnologia, escorregou 2,47%. O barril do petróleo tipo Brent, negociado em Londres e referência para a política de preços da Petrobras, caiu 1,55% nos contratos para junho, cotado a US$ 106,65. Na semana, a queda da commodity foi de 4,52% .