Bolsa de Valores cai e dólar sobe com tensão internacional

Publicado em Economia

GABRIEL PONTE*

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), sofreu um novo dia de perdas, com recuo de 0,94%, aos 95.103 pontos, influenciado, principalmente, pelo cenário adverso em Wall Street. O dólar avançou fortemente em relação ao real, encerrando a sessão de negócios negociado a R$ 3,806 a venda, alta de 1,25%. Foi o sexto avanço consecutivo da moeda norte-americana, a maior alta intradiária da divisa em quase dois meses.

Investidores do mundo todo acompanharam, nesta tarde, o discurso do presidente Jair Bolsonaro em Davos, na Suíça, no Fórum Econômico Mundial (FEM). A fala do chefe do Executivo, que durou não mais que seis minutos e, segundo analistas, o tom superficial não revelou grandes novidades ao mercado financeiro.

 

De acordo com Reginaldo Galhardo, gerente de Câmbio da Treviso Corretora, o comportamento da moeda norte-americana esteve atrelada ao discurso de Bolsonaro. “As falas do presidente foram bastante sucintas. Teoricamente, ele falou o que a comunidade econômica gostaria de escutar. No entanto, talvez a expectativa do mercado estivesse muito além do que realmente aconteceu. Terminado o seu pronunciamento, o câmbio já mudou de patamar, pressionando o dólar”, detalhou. De acordo com Galhardo, a comunidade de investidores estrangeiros talvez esperasse por um pronunciamento mais incisivo. “Faltaram palavras mais contundentes sobre a economia, sobre a forma como ele vai interagir com o mercado e aprovar as reformas fiscais”, destacou.

 

Segundo Raphael Figueredo, sócio-analista da Eleven Financial Research, o discurso de Bolsonaro foi interpretado de duas maneiras diferentes. “Sob a visão do investidor local, as falas de Bolsonaro foram neutras. Muito o que foi dito tratou-se mais de uma repetição que nós, brasileiros, já ouvimos. Agora, ao falar para o mundo, a retórica foi a mesma que ele já vinha tratando internamente, defendendo retomar a confiança, ao mostrar que o país e a política econômica mudaram de eixo”, analisou.

 

Questionado pelo recuo do Ibovespa na sessão de negócios de hoje, Figueredo pontua dois fatores. “Pelo fato da fala de Bolsonaro ter sido neutra, e o mercado já ter se antecipado muito aos movimentos que ele vem defendendo sobre privatização, abertura de mercado, etc, esses temas já haviam sido precificados, ou seja, não houve um impacto imediato. A Bovespa, hoje, já sofre diretamente pela queda do mercado internacional, principalmente pelo recuo dos índices S&P 500, Nasdaq e Dow Jones, contaminando outras praças. Boa parte do movimento é de um ajuste, já que ontem foi feriado nos EUA”, completou.

 

Já Breno Bonani, analista interno da Valor gestora, considerou a fala de Bolsonaro dentro do esperado pelo mercado. “Foi um discurso bem normal, principalmente com a defesa do cumprimento da agenda liberal, priorização das reformas e agenda de privatizações. Há um potencial para a bolsa crescer, mas ainda esperamos a passagem das reformas, mensurando se ele tem poder de passar esse texto pelo Congresso”, afirmou. O analista também reforçou que pesou no comportamento dos ativos o imbróglio comercial entre Estados Unidos e China. De acordo com o Financial Times, os EUA recusaram uma reunião preparatória com autoridades chinesas antes das efetivas negociações comerciais.

 

Passado o discurso de Bolsonaro, para Bonani, a grande expectativa agora gira em torno da participação de Paulo Guedes no Fórum, amanhã. “Esperamos que ele faça um discurso positivo, liberal, voltado para privatizações. Sobre a reforma da Previdência, não sei se ele pode fazer tanta coisa. A missão é passar um texto bom, no Congresso, que seja viável para todos. Pode haver alguma sinalização de abertura de capital na B3. As expectativas são de um movimento mais aberto que chame o estrangeiro”, analisou.

 

Brasília, 18h19min