Bolsa corrige pessimismo “exagerado” de janeiro, segundo Eurasia

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ROSANA HESSEL

A euforia recente da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) logo após a vitória dos candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro nas eleições da Câmara e do Senado, não passa de um ajuste nas previsões que tinham um pessimismo “exagerado”, na avaliação do cientista político Christopher Garman, diretor para as Américas do Eurasia Group.

“Eu diria que está havendo uma correção das expectativas, que estavam pessimistas em janeiro devido ao recrudescimento da crise sanitária, dos atrasos na vacina e o risco de impeachment do presidente Bolsonaro. Os operadores estavam bastante preocupados”, explicou o analista da consultoria sediada em Washington.

O cientista político reconheceu que há chances de avanços de algumas agendas do governo com as novas presidências da Câmara, mas tudo dependerá do nível de impacto da pandemia da covid-19, porque há um espaço muito curto para a realização de reformas estruturais.  Ele, por exemplo, não consegue ver espaço para a aprovação da reforma tributária e fez ressalvas sobre o cenário daqui para frente, que dependerá muito mais do sucesso da vacinação para uma retomada de verdade.

“O governo está refém das demandas do quadro sanitário. Se ele piorar, precisará liberar o auxílio e não conseguirá fazer um ajuste fiscal. Existe uma janela favorável até o segundo semestre deste ano, mas o clima eleitoral pode contaminar tudo”, alertou.

Para ele, o governo precisa negociar reformas na área fiscal, mas se houver medidas de restrição de circulação mais severas nos estados, a pressão política para um novo auxílio emergencial será mais forte e mais necessário, mas ele precisará ser restrito e dentro das restrições do teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento de despesas à inflação do ano anterior.

Impeachment

Antes de deixar a presidência da Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ),  tinha mais de 60 pedidos de impeachment contra Bolsnaro, que vem sendo muito criticado pelos pares sobre os erros do Ministério da Saúde na condução da crise em Manaus, no mês passado, e pelos atrasos nos processos de vacinação no país.

“O risco de impeachment de Bolsonaro é baixo. A Câmara, sob nova presidência, não deve iniciar um processo agora e o Senado vai tentar compatibilizar as propostas fiscais ao teto de gastos e parte ânimo do mercado é a correção do grau de preocupação, que estava exacerbado”, afirmou. Pelas estimativas da Eurásia, as chances de o novo auxílio não caber no teto de gastos é de 40%, no momento.

Após o anúncio dos novos presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), do comprometimento com a agenda de reformas, a B3 acabou subindo quase 1% nesta quinta-feira (03/02).

Vicente Nunes