Blefe e realidade

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O discurso duro do Banco Central não está sendo suficiente para convencer os agentes econômicos de que não mexerá nos juros neste ano. As apostas majoritárias no mercado são de que o Comitê de Política Monetária (Copom) cortará a taxa básica (Selic) a partir de outubro, e de forma agressiva: 0,5 ponto percentual, dos atuais 14,25% para 13,75%. Na visão dos analistas, não precisará nem uma medida concreta em direção ao ajuste fiscal para que os juros caiam. Bastarão sinais positivos do Congresso em relação às propostas do governo para que o BC se sinta confortável para iniciar o afrouxo monetário.

O time de economistas que apostam na baixa da Selic em outubro é respeitável. Inclui Octávio de Barros (Bradesco), Alberto Ramos (Goldman Sachs) e João Pedro Ribeiro (Nomura Securities). Eles acreditam que a recessão fará o papel de derrubar a inflação e de indicar a convergência do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o centro da meta, de 4,5%, até o fim de 2017. Não custa lembrar que, na ata do Copom divulgada ontem, o BC não fixa, de forma clara, o prazo para que o custo de vida encoste no objetivo definido em lei. Fala apenas em “horizonte relevante” e em “18 meses ou mais”.

O BC acredita que, além do governo, com o ajuste fiscal, o mercado terá que dar a sua cota para que a Selic caia. Na avaliação do time chefiado por Ilan Goldfajn, os mesmos analistas que afirmam, categoricamente, que os juros vão baixar ainda neste ano, devem rever suas estimativas de inflação. Do jeito que as coisas estão hoje, as contas não fecham. Não há como se falar em redução da taxa básica prevendo que o IPCA se manterá em 5,3% em 2017, portanto, distante do centro da meta. O BC acredita que, mais cedo, mais tarde, o mercado cairá na real. Aí, sim, será possível falar, claramente, da redução do custo do dinheiro.

Brasília, 04h01min

Vicente Nunes