ROSANA HESSEL
Depois de ficar praticamente um mês sem divulgar as perspectivas do mercado sobre a economia brasileira devido à greve dos servidores, o Banco Central publicou, nesta terça-feira (26/4), quatro relatórios semanais Focus de uma única vez com projeções nada animadoras sobre a inflação deste ano, que superam o teto da meta e estão cada vez mais próximas de 8%.
No último relatório, com as projeções de 25 de março, a mediana das estimativas para o Índice Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, no acumulado em 12 meses até dezembro, estava em 6,86% e, em 22 de abril, passou para 7,65%, acima do dobro da meta deste ano determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3,50%, e cujo limite superior é de 5%. Para 2023, as projeções do mercado para o IPCA passaram de 3,80% para 4% em quatro semanas, acima do centro da meta, de 3,25%.
Em 2021, o IPCA encerrou o ano com alta de 10,06%, acima do teto da meta de inflação, de 5,25%. Com isso, o Banco Central precisou enviar ao Ministério da Economia uma carta justificando o descumprimento do objetivo principal da autoridade monetária que é preservar o poder de compra da moeda brasileira. Tudo indica que o mesmo deverá ocorrer neste ano, logo o BC descumprirá novamente a meta pelo sétimo ano consecutivo desde o início do regime de metas, em 1999.
Juros em alta e PIB fraco
Com a escalada da inflação, que não tem freio e vem surpreedendo até o Banco Central, as previsões do mercado para a taxa básica de juros (Selic) no fim deste ano estão subindo e, mesmo com uma leve melhora em relação a março, as projeções para crescimento econômico ainda são baixas, confirmando as estimativas de que o Brasil continuará crescendo pouco e abaixo da média global e dos emergentes.
A mediana das estimativas do Focus para a taxa Selic no fim deste ano passou de 13% para 13,25% anuais, entre 25 de março e 22 de abril. Na próxima semana, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, deverá anunciar nova elevação da Selic de, pelo menos, um ponto percentual. Com isso, a taxa básica de juros passará de 11,75% para 12,75% e aumentam as apostas de que o ciclo de aperto monetário, iniciado em março de 2021, quando a Selic estava no piso histórico de 2% ao ano, deverá continuar uma vez que a inflação atual é a mais elevada desde 2002.
E, para dezembro do ano que vem, a estimativa do Focus para a taxa Selic, de 9% anuais, foi mantida no último boletim, passando para 7,5% ao ano em 2024.
Houve sensível melhora na mediana para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que passou de 0,50% para 0,65%. Contudo, essa previsão é menos da metade da taxa de 1,50% prevista pelo Ministério da Economia no Boletim Macro Fiscal que foi a base para os parâmetros macroeconômicos do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2023 entregue no último dia 14 ao Congresso Nacional e que, de acordo com analistas legislativos dificilmente será votado neste ano eleitoral.
Segundo eles, ainda não há acordo entre as lideranças para a composição da Comissão Mista de Orçamento (CMO), que será presidida pela Câmara neste ano, e a tendência é que o Congresso adie ao máximo a formação do colegiado até o envio do Orçamento, em agosto, e postergar a votação do PLDO até o resultado das eleições, deixando o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) para o começo de 2023, como ocorreu em 2019. Para 2023, a previsão para o PIB caiu de 1,30% para 1% em quatro semanas, dado bem abaixo dos 2,5% estimados pela equipe econômica.
As perspectivas do mercado para o câmbio tiveram uma sensível melhora, mas elas continuam prevendo o dólar ainda acima de R$ 5 até 2025. Entre 25 de março e 22 de abril, a mediana das projeções para a divisa norte-americana passou de R$ 5,25 para 5%, neste ano, e de R$ 5,20 para R$ 5, no ano que vem.