Quem acompanha o dia a dia do BC garante que a instituição comandada por Roberto Campos Neto vai, sim, adotar uma postura menos conservadora em relação aos juros, pois há um conjunto de fatores que justificam ações mais ousadas por parte da autoridade monetária. Os mais afoitos falam em uma Selic de 3,75% anuais nos próximos meses.
O discurso dos integrantes desse grupo é consistente. Eles afirmam que a atividade econômica no Brasil está mais fraca do que o imaginado, como mostrou a produção industrial de janeiro, que caiu 0,7%. O mundo está em processo de desaceleração, e esse movimento deve se acelerar ante o estrago do coronavírus na China, a segunda economia do planeta.
As apostas são de que a China, que está praticamente parada, crescerá apenas 4% neste ano, o que é visto como quase recessão. Se esse quadro se confirmar, o Brasil será um dos mais afetados, já que os chineses são os principais parceiros comerciais do país.
Cada ponto percentual a menos de crescimento na China tira 0,2 ponto do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. A China vinha crescendo próximo de 6,5% ao ano. Se a expansão daquele país cair para 4%, o PIB do Brasil perderá pelo menos 0,5 ponto percentual. É muito.
Refém
Há um fator, porém, preocupando o Banco Central: a alta do dólar. Se os preços da moeda norte-americana passarem de R$ 4,30, o sinal de alerta será aceso, mesmo com a inflação sob controle. O BC não gosta de brincar com o câmbio. Toda crise séria que o país enfrentou começou por aí.
Diante disso, a tendência é de que o comunicado do BC após a reunião do Copom deverá ser neutro, como ressalta um integrante da equipe econômica. Ou seja, deixará as portas abertas para futuros cortes nos juros, mas sem se comprometer com qualquer coisa. O BC não quer ficar na condição de refém num momento de tanta incerteza.
Brasília, 16h14min