BC reforça na ata sinalização de um ciclo de alta parcial da Selic

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ROSANA HESSEL

Em uma ata mais enxuta, com quatro parágrafos a menos do que na anterior, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, reforçou o ajuste parcial da taxa básica de juros (Selic) neste ano, contrariando a expectativa do mercado de que ele sinalizaria a continuidade do ciclo de alta, iniciado em março, até o fim do do ano.

Na última reunião, realizada nos dias 4 e 5 de maio, o Copom elevou a taxa básica de 2,75% para 3,50% e ainda sinalizou nova alta de 0,75 ponto percentual na reunião de junho, o que elevará a Selic para 4,25%. A decisão foi unânime. As expectativas de inflação para 2021, 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus, na semana da reunião, estavam em 5,0%, 3,6% e 3,25%, respectivamente.

Para justificar o movimento da última reunião e repeti-lo na próxima, o Copom informou na ata, divulgada nesta terça-feira (11/05), que “considerou diferentes trajetórias de normalização de juros”. “Levando em conta o cenário básico e o balanço de riscos, o Comitê avaliou que na próxima reunião seria adequado outro ajuste da mesma magnitude, caso não haja mudança nos condicionantes de inflação”, escreveu.

Adicionalmente, destacou que observou que elevações de juros subsequentes, sem interrupção, até o patamar considerado neutro implicam “projeções consideravelmente abaixo da meta de inflação no horizonte relevante”, ou seja, para 2022 e 2023. “O Copom reafirmou que essa visão para as próximas reuniões pode ser alterada caso haja mudança nas projeções de inflação ou no balanço de riscos, uma vez que a decisão continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, e das projeções e expectativas de inflação”, complementou.

O economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otávio de Souza Leal, considerou essa sinalização o principal ponto da ata. “Ao contrário do que boa parte do mercado achava, de que ele iria dar um viés para um ajuste total, ele dá mais força para o ajuste parcial”, afirmou Leal, em entrevista ao Blog.

Na ata, o Comitê voltou a afirmar que o cenário básico apresenta riscos “em ambas as direções”. Ao sinalizar a “normalização parcial”, algumas apostas indicavam que os juros continuarão subindo até setembro, pelo menos, deixando a Selic ainda em um patamar estimulativo, ou seja, abaixo de 6,5% — considerado o limite para a taxa de juros neutra para a atividade.

Contudo, o aumento das pressões inflacionárias, indicando que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá encerrar dezembro perto do teto da meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 5,25%, tem feito os agentes financeiros apostar em uma continuidade do ciclo de alta da Selic até dezembro, ou janeiro de 2022.

Ao explicar a discussão entre os membros sobre o termo “normalização parcial”, Copom informou na ata que entende que a menção à “normalização parcial”, assim como a divulgação do juro neutro e do hiato do produto implícitos nos modelos utilizados pelo Comitê, amplia a transparência sobre a função de reação do Banco Central e, consequentemente, aumenta a eficiência da política monetária. “Naturalmente, o Copom reavalia seu cenário a cada reunião tendo como compromisso a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante”, acrescentou o documento de 19 parágrafos.

Na ata, assim como no comunicado da reunião do Copom, o comitê demonstrou uma preocupação com a atividade econômica menor do que na ata anterior, sinalizando mais otimismo do que na última reunião.  Para o Comitê, apesar de a intensidade da segunda onda da pandemia ter sido maior que a esperada, “os últimos dados disponíveis de atividade têm surpreendido positivamente”.

De acordo com o documento, a vacinação será a chave para uma retomada mais robusta ao longo do ano. “O segundo semestre do ano deve mostrar uma retomada robusta da atividade, na medida em que os efeitos da vacinação sejam sentidos de forma mais abrangente”, destacou.

O colegiado reforçou, assim como no comunicado, que o cenário básico para a inflação envolve fatores de risco “em ambas as direções”.  Por um lado, o processo de recuperação econômica dos efeitos da pandemia “pode ser mais lento do que o estimado, produzindo trajetória de inflação abaixo do esperado”, e, por outro,  “novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem pressionar ainda mais os prêmios de risco do país”.

De acordo com a ata, “o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária”, o que, poderá influenciar diretamente o câmbio, que deverá continuar elevado.

Vicente Nunes