POR ANTONIO TEMÓTEO
Ao discursar ontem em São Paulo para uma platéia de empresários, o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, aproveitou a oportunidade para mandar uma série de recados para o mercado e para os críticos do trabalho da autoridade monetária. Ilan fez questão de ressaltar que o BC contribuirá para a recuperação da confiança e para a retomada do crescimento por meio do controle da inflação. “Um bem público do qual a sociedade brasileira não aceita mais abrir mão”, disse.
Parte do setor produtivo e lideranças sindicais tem elevado o tom nas críticas ao BC. Afirmam que, com os juros em 14,25% ao ano, o país não conseguirá financiar os projetos de infraestrutura e que mais empresas irão a bancarrota. Além disso, alertam que o desempregado não diminuirá enquanto o custo dos financiamentos não diminuir para as companhias, e que a renda continuará a despencar com a fraqueza da atividade econômica.
Ilan detalhou que inflação baixa e estável é condição necessária para a retomada da confiança, porque preserva o poder de compra dos indivíduos e das firmas e permite o alongamento dos horizontes de planejamento e o retorno do investimento produtivo. “Quero enfatizar que, quando combate inflação alta, o Banco Central atua em prol da recuperação da atividade econômica. O BC é parte da solução do crescimento. Permitir inflação mais alta não contribuirá para o crescimento sustentável”, ressaltou.
Mas, além de tentar acalmar uma platéia ávida por boas notícias, Ilan sinalizou que a queda de juros pode estar mais próxima do que alguns esperaram. Segundo ele, o BC tem enfatizado que a flexibilização das condições monetárias dependerá de fatores que permitam maior confiança no alcance das metas para a inflação no horizonte relevante para a política monetária. São eles: a queda no preço dos alimentos, um processo de desinflação em velocidade adequada e a redução da incerteza sobre a aprovação do ajuste fiscal.
O resultado da prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de setembro, que cravou 0,23%, já mostrou queda na inflação de alimentos, e o resultado global ficou abaixo do piso do mercado. O banco Itaú Unibanco, por exemplo, esperava que o IPCA-15 tivesse alta de 0,35% e os analistas mais otimistas esperavam uma variação de 0,25%. O grupo alimentação e bebidas foi o principal responsável pela desaceleração da inflação no mês, ao passar de alta de 0,8% em agosto para retração de 0,01% em setembro.
O presidente do BC deu ênfase ao fato de que o Copom avaliará a evolução da combinação desses fatores e alertou que não há fator que seja determinante por si só para as decisões de política monetária. “Os membros do Copom tomam suas decisões com base em avaliações necessariamente subjetivas, mas sempre calcadas em evidências sólidas sobre os fatores. Temos conduzido a política monetária com a prudência que o momento requer, de forma a garantir uma desinflação sólida e uma recuperação sustentável, ao mesmo tempo”, afirmou.
Além disso, Ilan endossou o “firme” compromisso do Copom com o controle da inflação em todo o horizonte relevante para a política monetária. “Esse horizonte inclui as metas definidas pelo Conselho Monetário Nacional para os anos calendários, inclusive a convergência para a meta de 4,5% em 2017. O horizonte relevante das ações de política monetária, por sua vez, não é estático. Ele se desloca continuamente com o passar do tempo”, comentou. Para ele, dentro dessa estratégia, à medida que avançam os meses, as ações de política monetária passam a dar mais importância, de maneira gradual, para períodos igualmente à frente.