ROSANA HESSEL
A escalada da taxa básica da economia (Selic), atualmente em 10,75% ao ano, e a inflação persistente acima de 10% está fazendo um estrago no orçamento das famílias, que estão cada vez mais endividados, com mais da metade da renda disponível comprometida com dívidas.
De acordo com dados do Banco Central divulgados nesta quinta-feira (24/2), o endividamento das famílias bateu novo recorde histórico, passando de 51,2%, em outubro, para 51,9%, em novembro.
Descontando o financimento imobiliário, esse percentual passou de 31,9% para 32,6%, na mesma base de comparação. Ambas as taxas são as mais elevadas da nova série do BC, iniciada em janeiro de 2005, e que inclui rendas extraordinárias, como o auxílio emergencial pago pelo governo durante a pandemia.
O comprometimento da renda, por sua vez, ficou estável, em 27,9% no mês de janeiro em relação aos dados de outubro divulgados em dezembro, conforme os dados do BC.
Juros e inadimplência sobem
Os dados do Banco Central mostram que o custo do crédito e a inadimplência aumentaram. As taxas de juros médias cobradas pelos bancos públicos e privados passaram de 24,3% para 25,3%, entre dezembro e janeiro e o spread bancário (que inclui a margem de lucro dos bancos e custos operacionais), passaram de 23,5 ponto percentual ao ano para 24,6 ponto percentual.
A inadimplência da carteira de crédito do sistema financeiro atingiu 2,5% em janeiro, alta mensal de 0,2 ponto percentual e de 0,4 ponto comparação interanual, conforme os dados do BC. Esse movimento refletiu os aumentos mensais de 0,2 ponto nas operações de crédito livre, para 3,3%, e de 0,1 ponto nas de crédito direcionado, para 1,3%.
No custo das operações específicas de crédito para a pessoa física junto a instituições privadas, os juros cobrados no cheque especial passaram de 127,9% ao ano para 124,4%. O custo do pessoal total, incluindo operações como crédito consignado, ficou estável, em 37,6%, mas o de aquisição de veículos, por exemplo a taxa subiu de 26,8% para 26,9% ao ano.
A taxa de juros anual no rotativo do cartão de crédito — o mais caro entre todas as modalidades — registrou queda de 1,1 ponto percentual, passando de 347,4%, em dezembro, para 346,3%, em janeiro.
O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, classificou essa leve queda no custo do cartão de crédito como “estabilidade”. “A nossa avaliação para um nível de taxa tão elevado que é o do cartão rotativo, essa flutuação no mês é uma estabilidade e pode significar, por exemplo, que um banco concedeu um pouco mais do que o concorrente, sem que ninguém precise alterar em nada a taxa”, afirmou.
O técnico do BC recomentou que os clientes evitem “ao máximo” esse tipo de modalidade de crédito e recomendou a negociação com o banco outro tipo de crédito, com juros mais baixos. “Essa taxa é muito elevada e os clientes devem, o máximo que puderem sair. O banco deve oferecer outras modalidades e os clientes devem buscar sair do rotativo e planejar as despesas e buscar uma forma de crédito mais barata”, orientou.
Segundo ele, o aumento na inadimplência geral, após vários meses de estabilidade “ainda não pode ser classficada como tendência”.
Saldo de operações anda de lado
Com o aumento dos juros e da inadimplência o saldo das operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) andou de lado. Conforme os dados do BC, em janeiro, somou R$ 4,7 trilhões em janeiro de 2022, permanecendo estável no mês.
Por segmento, o saldo do crédito para as empresas recuou 1,5%, para R$ 1,9 trilhão, enquanto para as famílias aumentou 1%, atingindo R$ 2,7 trilhões, de acordoc om o BC.
As concessões nominais de crédito alcançaram R$ 399,9 bilhões. Nas séries com ajuste sazonal, as contratações de crédito aumentaram 12,6% no mês, com altas de 11,1% nas operações com o segmento empresarial e de 3,7% com as famílias. As concessões nominais observadas aumentaram 21,6% na comparação interanual, com variações de 17,4% e de 25,4% para pessoas jurídicas e físicas, informou o BC.