HAMILTON FERRARI
O Banco Central (BC) decidiu, na noite desta quarta-feira (31/7), reduzir a taxa Selic, por unanimidade, em 0,5 ponto percentual, levando os juros a cair de 6,5% ao ano para 6% anuais. A diretoria do Comitê de Política Monetária (Copom) atendeu aos pedidos do Palácio do Planalto e de parte do mercado e fez um corte mais intenso nos juros.
Economistas estavam divididos em relação à diminuição do índice, que poderia ser entre 0,25 ponto percentual ou 0,5 ponto percentual. Como o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, assumiu o cargo em fevereiro deste ano, sem ainda ter anunciado qualquer tipo de mudança na Selic, parte dos analistas entendiam que ele teria um movimento de maior cautela.
Não foi o que ocorreu. O próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, disse, na manhã desta quarta, que “não é Dilmo”, mas que espera uma redução da Selic. “Estou torcendo apenas para que caia a taxa de juros. Cada 1% da taxa Selic são R$ 40 bilhões a mais que a gente gasta por ano. A gente torce, pô. Eu não vou influenciar lá, eu não sou o Dilmo de calças compridas” disse, na entrada do Palácio do Alvorada
O Blog já havia mostrado que o presidente estava de olho no movimento da autoridade monetária. Economistas também acreditam que não havia porque o Banco Central manter uma postura conservadora, já que as estimativas para a inflação estão ancoradas em níveis menores do que da meta de 4,25% para 2019 e de 4% para 2020.
O BC havia sinalizado que o cenário de aprovação das reformas era preponderante para corte da Selic. Além disso, o cenário externo ainda gerava dúvidas para a evolução das taxas de juros nos países desenvolvidos. A inflação, porém, já embicava para níveis mais controlados.
O avanço da reforma da Previdência com largo placar no primeiro turno da Câmara e o cenário mais positivos para o corte de juros nos países ricos, inclusive nos Estados Unidos (EUA), além do desempenho fraco da inflação, que está em 3,27% no acumulado do ano até junho, deram sinais de que o corte na Selic poderia ser maior.
Comunicado
Na nota publicada no site, o Copom informou que os indicadores recentes da atividade econômica sugerem possibilidade de retomada do processo de recuperação da economia brasileira, mas em ritmo gradual.
“O cenário externo mostra-se benigno, em decorrência das mudanças de política monetária nas principais economias. Entretanto, os riscos associados a uma desaceleração da economia global permanecem. O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente encontram-se em níveis confortáveis, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária”, citou a autoridade monetária.
No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom situam-se em torno de 3,6% para 2019 e 3,9% para 2020.
“Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros para 6,00% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2020”, informou o Copom.
A diretoria do BC ponderou, porém, que há necessidade de continuidade no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira. O Copom entende que houve avanço, mas que o andamento ainda é “essencial para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia”.
Histórico da taxa Selic (ao ano)
Ago/16 (14,25%)
Set/16 (14%)
Nov/16 (13,75%)
Jan/17 (13%)
Fev/17 (12,25%)
Abr/17 (11,25%)
Mai/17 (10,25%)
Jul/17 (9,25%)
Set/17 (8,25%)
Out/17 (7,5%)
Dez/17 (7%)
Fev/18 (6,75%)
Mar/18 (6,5%)
Jul/19 (6%)
Dez/19* (5,50%)
Dez/20* (5,55%)
*Projeções do Boletim Focus
Brasília, 18h12min