BC alerta para risco eleitoral e mercado prevê alta de juros em 2018

Publicado em Economia

POR ANTONIO TEMÓTEO

 

O risco de que um candidato sem compromisso com as reformas e os ajustes das contas públicas seja eleito presidente da República entrou no radar do Banco Central (BC). Em comunicado divulgado ontem após a reunião em que o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica de juros (Selic) em 6,5% ao ano, a autoridade monetária sinalizou que esse perigo está em um nível “mais elevado”. Por conta disso, analistas apostam em alta da Selic após as eleições de outubro.

 
Para os diretores do BC, desde o último encontro do Copom, aumentou o risco de que o processo de reequilíbrio fiscal não tenha continuidade — o que pode afetar as expectativas do mercado financeiro para o crescimento, a inflação e a taxa de desemprego.

“O Comitê enfatiza que a continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes”, diz o comunicado.

Apesar do alerta, o Copom manteve as projeções de que a inflação será de 4,2% em 2018 e de 4,1% em 2019. O cenário leva em conta taxa de câmbio de R$ 3,75. O órgão destacou que os efeitos da greve dos caminhoneiros foram passageiros, mas continuarão sob monitoramento. “O Comitê considera que os efeitos dos choques recentes sobre a inflação estão se revelando temporários, mas é importante acompanhar o cenário básico e seus riscos e avaliar o possível impacto mais perene de choques sobre a inflação”, diz a nota.

Na avaliação do economista-chefe do banco UBS no Brasil, Tony Volpon, embora os choques recentes com a greve dos caminhoneiros e a alta do dólar não tenham sido fortes o suficiente para tirar o BC da zona de conforto, o processo eleitoral pressionará o valor da moeda estrangeira, as expectativas de inflação e os prêmios de risco. Para Volpon, isso forçará a autoridade monetária a ajustar a Selic até fim do ano. “Esperamos aumento de 0,5 ponto percentual na taxa após as eleições de outubro, e Selic de 7,50% até o fim do ano”, afirmou.
O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, não descarta alta de juros ainda em 2018. Mas, para ele, isso ocorreria somente em meio a uma depreciação cambial ou outro choque que afete as expectativas de inflação. “Note-se que um ‘choque’ possível seria derivado da falta de credibilidade de um futuro banqueiro central de um eventual candidato que não seja plenamente comprometido com o arcabouço regime de metas”, disse.