BATALHA DOS JUROS

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O Palácio do Planalto está convencido de que, até o próximo dia 20, o Banco Central se dará conta de que aumentar os juros agora será um tiro no pé. A ordem da presidente Dilma Rousseff é para que seus auxiliares não façam marolas em torno da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), mas ela própria está trabalhando nos bastidores para que a esperada elevação da taxa básica da economia (Selic) fique apenas na promessa.

 

A justificativa mais presente no discurso palaciano a favor da manutenção da Selic é a perspectiva de uma nova desaceleração da economia mundial puxada pela China. Há o temor de que, com o maior parceiro comercial do país afundando — as projeções já apontam para crescimento médio chinês de 4% ao ano até 2020 —, a recessão brasileira, que é brutal, se prolongue para além de 2017, dificultando os planos eleitorais do PT neste ano e, sobretudo, os de 2018.

 

Dentro do BC, o clima é de apreensão. Por mais que os diretores afirmem que estão blindados em relação a qualquer pressão política, todos sentiram o baque dos movimentos dentro do governo para interferir na decisão do Copom. O comando do banco reconhece que o quadro atual é desafiador, mas ressalta que, quanto mais a discussão sobre os juros forem contaminadas pela política, maiores serão as dificuldades para se chegar a um diagnóstico correto.

 

Derrocada

 

Em reunião na Basileia, no último fim de semana, o presidente do BC, Alexandre Tombini, se deparou com um quadro de preocupação com a China. Mas o humor dos presidentes do BCs presentes no encontro foi melhor do que o esperado. Ou seja, ninguém está trabalhando com uma derrocada da segunda economia do planeta nem com uma onda de pessimismo que arraste o mundo, que crescerá pouco mais de 3,1% em 2016, para o buraco.

 

O grande questionamento em relação à China na reunião dos BCs foi sobre a política cambial do país. Em agosto do ano passado, o país asiático surpreendeu o mundo ao desvalorizar sua moeda, o yuan. A partir dali, a divisa passou por uma série de correções, estimulando um clima de incerteza sobre o que realmente querem os chineses. À medida que o yuan perde valor em relação ao dólar, as moedas de países emergentes acabam perdendo valor. Para o Brasil, é um problemão, pois dólar mais caro significa mais inflação.

 

A garantia dos chineses aos presidentes do BC é de que tudo será feito de forma gradual, sem atropelos, dentro da estratégia do governo de transformar o país em uma economia de mercado, sustentada pelo consumo interno, mas todos os presentes reconheceram que os desafios são enormes. A China está atrelada a distorções. Os anos seguidos de forte crescimento, estimulado pelo setor público, criaram bolhas que, agora, precisam ser desinfladas. Os custos da correção serão repartidos com todo o mundo.

 

Ameaça

 

Por mais, porém, que a China seja uma ameaça, os dilemas enfrentados pelo BC sobre o aumento dos juros está diretamente ligado a problemas criados exclusivamente pelo governo brasileiro. A necessidade apontada por parte dos integrantes do Copom de se elevar a Selic decorre do descompromisso com o controle da inflação. Desde que Dilma tomou posse, em 2011, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou distante do centro da meta em todos os anos. O argumento era de que os desvios tinham a ver com choques de todas as ordens que o país enfrentou. O descaso foi tão grande que, em 2015, a inflação atingiu 10,67%, taxa inimaginável para uma economia que se diz compromissada com a estabilidade.

 

Além de o custo de vida não dar trégua, o BC sequer sabe se poderá contar com a ajuda do Ministério da Fazenda no que se refere ao ajuste fiscal. A meta de superavit primário de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) ainda é uma miragem. Olhando para a situação das contas públicas hoje, pode-se garantir que o Tesouro Nacional terá, em 2016, o terceiro ano seguido de deficit. Contas em desajustes significam mais pressão sobre a carestia.

 

Enfim, vamos assistir, nos próximos dias, a um ataque em massa ao Banco Central. O PT já está pregando abertamente a substituição de Alexandre Tombini caso os juros subam na próxima semana. O partido da presidente Dilma deveria, porém, deixar os assuntos econômicos de lado e prestar contas ao país da corrupção, sobretudo na Petrobras. Onde o PT bota o dedo é sinal de que o desastre é iminente.

Brasília, 08h30min