BARBEIRAGENS DO BANCO CENTRAL

Publicado em Sem categoria

Apostava-se que, depois de quatro anos de barbeiragem, sem jamais conseguir levar à inflação para o centro da meta, de 4,5%, o Banco Central comandado por Alexandre Tombini tivesse aprendido a lição. E não faltou boa vontade entre os investidores para acreditar que, iniciado o segundo mandato de Dilma Rousseff, a autoridade monetária finalmente daria a sua contribuição para a retomada da credibilidade da política econômica. Infelizmente, o BC voltou a ser motivo de decepção e de desconfiança.

Entre os analistas, nunca houve dúvidas sobre a necessidade de o BC aumentar a taxa básica de juros (Selic) para derrubar a inflação. O problema é que o Comitê de Política Monetária (Copom) começou o arrocho tarde demais, esperando o final das eleições presidenciais do ano passado, e com o nível de atividade despencando. Com o discurso de que levará o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o centro da meta até o fim de 2016, pisou fundo na definição da Selic, a ponto de levá-la, na semana passada, para 13,75% ao ano, o maior nível desde dezembro de 2008.

É possível que, em junho, o BC dê pelo menos mais um aumento nos juros de 0,25 ponto percentual, para 13,50% — esse é o consenso do mercado. Mas isso não é garantia de que a inflação cederá na velocidade prometida por Tombini. O certo, mesmo, é o aprofundamento da recessão na qual o Brasil mergulhou. Tanto que, semana após semana, os analistas ampliam o tamanho do tombo da economia neste ano. As projeções apontam, agora, para encolhimento de 1,18% do Produto Interno Bruto (PIB).

Com a economia encolhendo e a inflação acima de 8%, devido, principalmente, à correção dos preços da energia elétrica e dos combustíveis que Dilma segurou para enganar os eleitores, muitos estão se perguntando se realmente valerá a pena o BC impor tamanho custo ao país. Além de empurrar a atividade ladeira abaixo, a instituição está pondo em risco o ajuste fiscal que o governo tanto precisa para evitar a perda do grau de investimentos do Brasil.

Uma economia mais fraca resulta em arrecadação menor. Juros maiores significam mais dispêndios com os credores. Não custa lembrar que, somente nos primeiros três meses deste ano, a dívida pública consumiu R$ 143,8 bilhões, quase três vezes mais que os R$ 58,6 bilhões de igual período de 2014. Essa fatura foi tão alta que, apesar do superavit de R$ 19 bilhões entre janeiro e março, o rombo final nas contas da União, dos estados e dos municípios atingiu 9% do PIB — um buraco insustentável.

As dúvidas em relação ao BC vão além. Na última quinta-feira, a instituição anunciou que rolaria, integralmente, os contratos de swap que vencerão em maio, uma montanha de US$ 10,1 bilhões. Ontem, porém, indicou que não será bem assim, que o refinanciamento das operações será próximo de 80%. Pode não ser uma diferença grande, mas a inconstância no discurso provocou ruídos desnecessários. O dólar subiu 2,24%, a R$ 3,08 para venda. Há pouco mais de uma semana, a moeda estava cotada a R$ 2,92.

Esse vaivém do BC é ruim. A impressão que se dissemina no mercado é a de que a autoridade monetária está mais perdida do que cego em tiroteio. Por isso, os investidores não perdoam. O risco Brasil, medido pelo Credit Default Swap (CDS), uma espécie de seguro, voltou a subir, batendo em 240 pontos, acumulando alta de 3% num mês que mal começou. No mercado futuro de juros, os contratos mais longos, com vencimento em janeiro de 2021, também houve alta — de 12,74% para 12,86% ao ano —, quando as taxas deveriam estar caindo para demonstrar confiança na autoridade monetária.

Ainda é possível o BC corrigir os rumos. Sempre é. Mas o passado da autoridade monetária condena. Nos últimos quatro anos, em vez de fazer o dever de casa para retomar o controle da inflação, a instituição preferiu acreditar no conto da carochinha difundido pelo então ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele dizia que faria um ajuste fiscal consistente para ajudar a derrubar a carestia, e todos no Banco Central acreditavam. Mesmo com as evidências de que Mantega estava mentido, o BC incluía em suas projeções o arrocho nas contas públicas. Deu no que deu.

Agora, quando há realmente uma equipe econômica disposta a dar uma boa arrumação na área fiscal, parece que a autoridade monetária está insistindo em caminhar na direção contrária, ao elevar os juros além da conta e jogar o país em uma profunda recessão. Uma pena.

O Banco Central não consegue se entender no câmbio e corre o risco, ao pesar demais a mão nos juros, de destruir o ajuste fiscal que o país tanto precisa para recuperar a credibilidade

CVM faz jogo de cena

» Tem gente no governo dizendo que a decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de abrir processos contra ex-conselheiros da Petrobras, entre eles, Guido Mantega e Miriam Belchior, é puro jogo de cena. A alegação é de que a autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda vai arquivar, em breve, as investigações por falta de provas.

Golpe na telefonia

» Clientes da Vivo estão sendo surpreendidos com a cobrança indevida de pacotes para DDD. Dizem que nunca pediram a inclusão do serviço na fatura, mas a empresa insiste em cobrar. Quando vão reclamar, descobrem que tudo foi lançado por mera decisão da companhia. A cobrança indevida custa R$ 69 por mês, mas pode chegar a R$ 138.

Brasília, 09h05min