Com base em relatórios de bancos — nesta quinta-feira (16/05), foi a vez de o Bank of America anunciar que prevê o corte da Selic para 5,50% neste ano —, parte do governo já começa a levantar a possibilidade de o Banco Central ser o salvador da lavoura.
Tanto no Palácio do Planalto, entre os assessores mais próximos do presidente Jair Bolsonaro, quanto na equipe econômica, técnicos dizem que seria muito importante o BC iniciar, já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em julho, o corte da Selic. Assim, acreditam esses técnicos, os agentes econômicos se sentiriam mais confortáveis para investir, produzir e consumir.
É importante, porém, combinar o jogo com os bancos. De nada adiantará o BC reduzir a Selic se não houver repasse dessa queda para as taxas cobradas em empréstimos e financiamentos. Os bancos estão no topo dos grupos mais pessimistas em relação ao governo. Nesses momentos, costumam encarecer o crédito e serem mais seletivos nas operações.
PIB em baixa
O BC, na ata mais recente do Copom, admitiu que a economia está afundando, tanto que o Produto Interno Bruto (PIB) teve queda no primeiro trimestre do ano. Em seu indicador prévio do PIB, o IBC-Br, o Banco Central estimou em 0,68% o recuo da economia entre janeiro e março.
Muitos estão se perguntando como Roberto Campos Neto vai lidar com a pressão política para corte de juros. No Congresso, nesta quinta-feira, ele disse que há três condições que devem ser consideradas para os rumos da taxa de juros, para cima ou para baixo: a aprovação da reforma da Previdência, o quadro internacional e o hiato do produto (o quanto a economia está crescendo em relação a seu potencial).
Levando em consideração esses esses pontos, neste momento, ressaltou o presidente do BC, não há porque cortar os juros. A reforma da Previdência está longe de ser aprovada e o quadro internacional se mostra muito confuso. No caso do hiato do produto, sim, haveria espaço para redução da Selic, pois o PIB está avançando muito abaixo do que poderia e deveria.
Campos Neto acredita, porém, que o segundo semestre será de atividade econômica mais forte, com inflação ancorada nas metas. É um bom cenário para o BC, contudo, não para afrouxar a política monetária, um dos poucos focos de credibilidade dentro do governo.
Porém, como se diz em Brasília, as portas estão abertas para tudo, inclusive para o BC cortar os juros.
Brasília, 14h35min