Banco Central segue mercado e reduz previsões para o PIB de 2021 e de 2022

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ROSANA HESSEL

O Banco Central reduziu as previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deste ano e do próximo, reconhecendo deterioração da confiança e piora nos cenários interno e externo. Conforme os dados do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado nesta quinta-feira (16/12), a autoridade monetária prevê crescimento de 4,4% do PIB neste ano e de 1% no próximo. Antes, as previsões eram de 4,7% e 2,1%.

As medianas das projeções do mercado, que não para de revisar para baixo as estimativas de PIB, estão mais otimistas do que o BC, para 2021, e mais pessimistas em relação a 2022, prevendo altas do PIB de 4,65% e de 0,5%, respectivamente.

No Relatório de Inflação, a autoridade monetária demonstrou preocupação com o cenário externo, admitindo que o “ambiente se tornou menos favorável” e os indicadores de mais alta frequência indicaram recuo da atividade econômica difundido em vários setores. Para justificar a revisão para baixo das previsões do PIB, o BC também afirmou que houve “surpresas negativas em dados recentemente divulgados – que sugerem perda de dinamismo da atividade e reduzem o carregamento estatístico para o ano seguinte”.

“Alguns bancos centrais das principais economias expressaram claramente a necessidade de cautela frente à maior persistência da inflação, tornando as condições financeiras mais desafiadoras para economias emergentes. Além disso, a questão imobiliária na China, a possibilidade de nova onda da covid-19 durante o inverno e o aparecimento da variante ômicron adicionam incerteza quanto ao ritmo de recuperação nas economias centrais. Esses eventos geraram quedas nos preços de commodities importantes, mas ainda é cedo para prever a extensão deste movimento”, destacou o documento.

O BC reconheceu ainda que os índices de confiança já disponíveis para os meses iniciais do trimestre corrente mostram deterioração e, para 2022. se por um lado a elevação dos prêmios de risco e o aperto mais intenso das condições financeiras atuam desestimulando a atividade econômica, por outro, o Comitê de Política Monetária (Copom) avalia que o crescimento tende a ser beneficiado pelo desempenho da agropecuária e pelo processo remanescente de normalização da economia.

O Relatório de Inflação mostra ainda que a inflação continua surpreendendo e a pressão inflacionária não arrefeceu devido ao aumento dos combustíveis, em grande parte. “A pressão sobre os preços de bens industriais ainda não arrefeceu, enquanto a inflação de serviços já se mostra mais elevada, refletindo a gradual normalização da atividade no setor. Há preocupação com a magnitude e a persistência dos choques, com seus possíveis efeitos secundários e com a elevação das expectativas de inflação, inclusive para além do ano-calendário de 2022”, alertou.

O documento destacou que as expectativas de variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 10,2%, 5,0% e 3,5% para 2021, 2022 e 2023, respectivamente.

“A inflação ao consumidor continua persistente e elevada. A alta dos preços surpreendeu mais uma vez no trimestre encerrado em novembro”, afirmou.  No cenário básico, considerando câmbio de R$ 5,65, as projeções do Copom de inflação situam-se de 10,2% para 2021, passando para 4,7%, em 2022, e para 3,2%, em 2023. Esse cenário, de acordo com o documento, supõe trajetória da taxa básica de juros (Selic), elevada recentemente para 9,25% ao ano, para 11,75% anuais durante 2022, terminando o ano em 11,25%, passando para 8%, em 2023.

Queda na agropecuária

Ao revisar o PIB deste ano para baixo, o BC passou a prever queda de 0,6% na produção agropecuária. Antes, estimava crescimento de 2%. No caso da produção industrial, reduziu a estimativa de expansão de 4,7% para 4,1%. E, no setor de serviços, ajustou a taxa de crescimento de 4,7% para 4,6%, reduzindo as estimativas de alta para o comercio e serviços, de intermediação financeira e de atividades imobiliárias.

Do lado da demanda, o BC elevou de 3,3% para 3,4% a previsão do consumo das famílias, e, de 0,9%para 1,8% o consumo do governo. A taxa de expansão da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), termômetro dos investimentos, passou de 16% para 16,8%. No setor externo, elevou de 5% para 5,5% a previsão de crescimento das exportações, e de 14,2% para 14,5%, a previsão de alta das importações.

Para ajustar o PIB de 2022, para 1%, o BC elevou de 3% para 5% a previsão de crescimento da agropecuária e passou a prever queda de 1,3% na produção industrial, em vez de alta de 1,2%. A estimativa de alta para o setor de serviços passou de 2,5% para 1,3%.

Do lado da demanda, o BC reduziu de 2,2% para 1,1% a previsão de crescimento do consumo das famílias e de 2,5% para 2,4% estimativa de alta para o consumo do governo. A queda dos investimentos no ano que vem passou de 0,5% para 3%. A previsão de crescimento das exportações foi mantida em 2,5% e o BC revisou de 1% para -1,5% a estimativa para as importações.

Vicente Nunes