O custo BC

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O presidente Michel Temer anuncia hoje um pacote com o intuito de proteger e estimular a criação de empregos, mas de nada adiantarão as medidas se o país não resolver um problema estrutural: as altas taxas de juros. O que se vê hoje é um descompasso enorme entre as ações que vêm sendo tomadas pelo Planalto e o Ministério da Fazenda para reanimar a atividade e o movimento seguido pelo Banco Central. Sob o comando de Ilan Goldfajn, a autoridade monetária está impondo um custo enorme à economia, pois assiste, impassível, ao derretimento da produção e do consumo.

Por excesso de cautela — muitos do governo falam em covardia —, o BC vem segurando, além da conta, a taxa Selic, que está em 13,75% ano. Quando descontada a inflação, os juros reais passam de 8%. Não há economia que consiga sair de uma recessão profunda como a brasileira com um custo tão elevado do dinheiro. Por mais que os empreendedores queiram se arriscar, o preço da oportunidade inviabiliza qualquer aventura. Pior: os juros elevadíssimos tornam as dívidas de empresas e das famílias quase impagáveis. Não será surpresa se, nos próximos meses, uma onda de quebradeira varrer o país.

O discurso do BC de Ilan é que o momento exige cautela e a missão do banco é levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%. Diante da gravidade da recessão, os preços estão desabando. O risco é o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficar abaixo do objetivo fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 2017. O BC pode errar feio, transferindo uma fatura pesada demais à sociedade. A instituição já deveria ter acelerado o passo no corte da Selic no fim de novembro, quando ficou claro que, em vez de se recuperar, a economia havia afundado ainda mais. Preferiu, no entanto, reduzir a taxa básica em apenas 0,25 ponto percentual.

Arrogância

Dentro do governo, já se diz que Ilan está presidindo o Banco Central da Suécia, e não o do Brasil. Os mais críticos veem o comportamento do presidente da autoridade monetária como arrogante, por ignorar os sinais de socorro emitidos pela economia. Muito dizem que ele está mais preocupado com sua imagem. Não quer, de forma alguma, ser comparado a seu antecessor, Alexandre Tombini, que foi usado pela ex-presidente Dilma Rousseff para viabilizar a política suicida de baixar juros por meio de canetadas. O resultado, como se sabe, foi a volta da inflação.

ilan, porém, pode carregar sobre os ombros a culpa de ter levado o Brasil a registrar, em 2017, o terceiro ano seguido de recessão, algo inédito na história do país. Será acusado, também, de empurrar um número ainda maior de brasileiros para o desemprego. Certamente, ele está ciente dos riscos que corre. O problema é que os excessos dele serão pagos por todos. Manter o país no atoleiro tornará o governo do qual ele participa mais fraco, empurrará mais empresas para a falência e impedirá que famílias possam satisfazer necessidades básicas de consumo.

Não se trata de nenhum exagero. A cada indicador divulgado, o aprofundamento da recessão fica mais claro. Isso vale, inclusive, para a inflação. O IPCA-15, prévia do índice oficial, cravou alta de apenas 0,19% em dezembro. Foi a menor taxa para o mês desde 1998. Um custo de vida nesse nível é ótimo, mas não a um preço tão alto. “Estamos vendo um BC desconectado da realidade. Reconheço a competência técnica dos atuais diretores, mas eles não podem ficar mais preocupados com os currículos do que com o país”, ressalta um ministro muito ligado a Temer.

Defesa

O que está provocando mais indignação é que todos — inclusive o presidente da República e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles — esperavam que Ilan anunciasse, na última terça-feira, um pacote de medidas para destravar o crédito e aliviar a vida de empresas e famílias endividadas. O BC, contudo, se limitou a lançar um pacote de intenções, sem nada de concreto. Como não tinha muito a dizer, Ilan recomendou aos jornalistas que estavam na entrevista coletiva que fossem conhecer Jackson Hole, uma cidade dos Estados Unidos na qual presidentes de bancos centrais costumam se reunir. “É um lugar lindo”, disse o chefe da autoridade monetária entre risos e indignação dos presentes.

Os defensores de Ilan afirmam que há muita má vontade dentro do governo em relação ao BC. Alegam que a política monetária está sendo conduzida de forma responsável, justamente para corrigir os enormes erros que foram cometidos pelos governos voluntaristas que antecederam o de Temer. “Se a inflação está desabando, isso se deve ao excelente trabalho executado pelo BC. Com inflação não se brinca. Foi o seu descontrole de destruiu a confiança e minou a economia. Tenhamos, portanto, juízo ao falarmos do Banco Central”, ressalta um integrante da equipe econômica.

A aposta é que, a partir de agora, com garantias seguras de que a inflação está convergindo para o centro da meta, o BC promova cortes mais fortes na taxa Selic. Há quem acredite, dentro do governo e nos mercados, em queda de 0,75 ou de um ponto percentual nos juros na reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom). Apesar de, efetivamente, a redução da Selic demorar até nove meses para ter impacto na economia real, haverá o efeito psicológico. Os empresários tenderão a retirar projetos de investimentos das gavetas e as famílias, a se sentir mais confortáveis para comprar.

“Todos estão muito ansiosos para que o país saia da recessão. Isso vale para o Planalto, para a Fazenda e para o próprio BC. Mas não dá para queimar etapas”, diz um graduado técnico da autoridade monetária. O importante, destaca ele, é olhar para todos os avanços dos últimos meses. O governo conseguiu aprovar no Congresso a revisão da meta fiscal de 2016, o Orçamento de 2017, a Emenda à Constituição que limita o aumento dos gastos públicos por até 20 anos, as mudanças nas regras do pré-sal, a Desvinculação de Receitas da União (DRU), a Lei de Telecomunicações. “É muita coisa. Temos que ter em mente que a queda mais forte dos juros será uma consequência natural desse movimento”, conclui.

Brasília, 06h07min

Vicente Nunes