Banco Central já cogita aumentar a taxa de juros se inflação subir

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Apesar de ter optado, de forma unânime, por reduzir a taxa básica de juros (Selic) de 2,25% para 2% ao ano nesta quarta-feira (05/08), o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, admitiu a possibilidade de o indicador voltar a subir nos próximos meses, caso a inflação comece a recobrar as forças.

No documento divulgado logo após a reunião do Copom, o BC ressalta que há riscos para a inflação, sobretudo em 2021, pois a retração da demanda pode ser menor do que a esperada, em função dos programas de complemento de renda criados pelo governo.

Ou seja, com o consumo acima do projetado, os agentes econômicos poderão se sentir confortáveis para promoverem reajustes, o que demandaria uma ação mais rápida do Banco Central. A instituição acrescenta outros dois motivos motivo para uma possível alta dos juros: o descontrole fiscal e a paralisação de reformas estruturais.

“Políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada ou frustrações em relação à continuidade das reformas podem elevar os prêmios de risco. Adicionalmente, os diversos programas de estímulo creditício e de recomposição de renda, implementados no combate à pandemia, podem fazer com que a redução da demanda agregada seja menor do que a estimada, adicionando uma assimetria ao balanço de riscos. Esse conjunto de fatores implica, potencialmente, uma trajetória para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária”, ressalta, no documento.

Comunicado “esquizofrênico”

Vários analistas consideraram o comunicado pós-Copom confuso, “esquizofrênico. Não sem razão. Ao mesmo tempo que alerta para os riscos de subidas da Selic, o BC indica que pode ainda fazer um corte adicional na taxa, pois as projeções de inflação estão abaixo das metas. “O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia”, frisa.

Mais: “O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”. Por outro lado, acrescenta: “Eventuais ajustes futuros no atual grau de estímulo (mais cortes nos juros) ocorreriam com gradualismo adicional”.

O Banco Central admite a assimetria de riscos. Por isso, não antevê, por ora, reduções no grau de estímulo monetário. A menos, é claro, que as expectativas de inflação estejam suficientemente próximas da meta de inflação, incluindo o ano de 2021.

Brasília, 18h49min

Vicente Nunes