No documento divulgado logo após a reunião do Copom, o BC ressalta que há riscos para a inflação, sobretudo em 2021, pois a retração da demanda pode ser menor do que a esperada, em função dos programas de complemento de renda criados pelo governo.
Ou seja, com o consumo acima do projetado, os agentes econômicos poderão se sentir confortáveis para promoverem reajustes, o que demandaria uma ação mais rápida do Banco Central. A instituição acrescenta outros dois motivos motivo para uma possível alta dos juros: o descontrole fiscal e a paralisação de reformas estruturais.
“Políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada ou frustrações em relação à continuidade das reformas podem elevar os prêmios de risco. Adicionalmente, os diversos programas de estímulo creditício e de recomposição de renda, implementados no combate à pandemia, podem fazer com que a redução da demanda agregada seja menor do que a estimada, adicionando uma assimetria ao balanço de riscos. Esse conjunto de fatores implica, potencialmente, uma trajetória para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária”, ressalta, no documento.
Comunicado “esquizofrênico”
Vários analistas consideraram o comunicado pós-Copom confuso, “esquizofrênico. Não sem razão. Ao mesmo tempo que alerta para os riscos de subidas da Selic, o BC indica que pode ainda fazer um corte adicional na taxa, pois as projeções de inflação estão abaixo das metas. “O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia”, frisa.
Mais: “O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”. Por outro lado, acrescenta: “Eventuais ajustes futuros no atual grau de estímulo (mais cortes nos juros) ocorreriam com gradualismo adicional”.
O Banco Central admite a assimetria de riscos. Por isso, não antevê, por ora, reduções no grau de estímulo monetário. A menos, é claro, que as expectativas de inflação estejam suficientemente próximas da meta de inflação, incluindo o ano de 2021.
Brasília, 18h49min