ROSANA HESSEL
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu, nesta quarta-feira (08/12), elevar a taxa básica da economia (Selic) em 1,50 ponto percentual, passando de 7,75% para 9,25% ao ano, como esperado pelo mercado. A decisão foi unânime, conforme o comunicado da última reunião do ano do colegiado e, com isso, a Selic recuperou o mesmo patamar de julho de 2017.
No comunicado, o Comitê indicou um novo aumento de mesma magnitude na próxima reunião do Copom, marcada para os dias 1º e 2 de fevereiro, ou seja, para 10,75% ao ano. Pelas estimativas de analistas, a Selic deverá continuar subindo até a primeira metade de 2022, uma vez que a inflação deverá permanecer em dois dígitos, pelo menos, até abril ou maio, devido ao elevado grau de indexação da economia, o que pode travar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, tanto que algumas previsões não descartam PIB negativo no ano que vem.
O documento apontou aumento dos riscos internos e externos e “em ambas as direções” para a decisão. “No cenário externo, o ambiente se tornou menos favorável. Alguns bancos centrais das principais economias expressaram claramente a necessidade de cautela frente à maior persistência da inflação, tornando as condições financeiras mais desafiadoras para economias emergentes. Além disso, a possibilidade de nova onda da Covid-19 durante o inverno e o aparecimento da variante Ômicron adicionam incerteza quanto ao ritmo de recuperação nas economias centrais”, informou a nota. “Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevam o risco de desancoragem das expectativas de inflação, mantendo a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico”, destacou.
Conforme o comunicado, “o Copom considera que, diante do aumento de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista”. “O Comitê irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, emendou.
Sétima alta consecutiva
Esta foi a sétima alta consecutiva da taxa Selic no ano, acumulando um choque monetário de 7,25 pontos percentuais, em nove meses — o maior em 20 anos. Devido à persistência da inflação, o Banco Central iniciou o ciclo de alta dos juros básicos em março, quando a Selic estava no piso histórico de 2% anuais.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltou ao patamar de dois dígitos e está nos maiores níveis desde fevereiro de 2016 e a carestia está bastante disseminada na economia. O real está bastante desvalorizado em relação dólar, que não cede abaixo de R$ 5,00 há meses devido devido à deterioração da confiança no governo no controle das contas públicas, após a equipe econômica concordar com mudanças regras fiscais, como o teto de gastos, para criar espaço fiscal para a gastança em ano eleitoral.
A inflação oficial acumulada em 12 meses até outubro ficou em 10,67% e a mediana das estimativas do mercado coletadas no boletim Focus, do Banco Central, para o IPCA deste ano é de 10,18%, quase o dobro do teto da meta de inflação, de 5,25%. Essa previsão vem sendo corrigida para cima há 35 semanas consecutivas. Para 2022, as projeções do mercado para o IPCA já indicam novo descumprimento da meta pelo BC, que será de 5%. A mediana das apostas do mercado vem subindo há 20 semanas e, no Focus desta semana, referente às previsões do último dia 3, está em 5,02%. Com isso, há uma expectativa grande de que o BC não conseguirá cumprir a meta de inflação por dois anos consecutivos.
Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, acredita que mesmo se o BC continuar elevando a taxa Selic até chegar em 12,5% ao ano, em maio de 2022, o IPCA em dezembro ficará acima do teto da meta: 5,94%. “É pouco provável que a Selic fique abaixo de 12% no ano que vem. Para isso, será preciso uma recessão profunda e uma queda fortíssima do dólar e dos preços das commodities”, alertou.
Veja a íntegra do comunicado do Banco Central:
Em sua 243ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 9,25% a.a.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
No cenário externo, o ambiente se tornou menos favorável. Alguns bancos centrais das principais economias expressaram claramente a necessidade de cautela frente à maior persistência da inflação, tornando as condições financeiras mais desafiadoras para economias emergentes. Além disso, a possibilidade de nova onda da Covid-19 durante o inverno e o aparecimento da variante Ômicron adicionam incerteza quanto ao ritmo de recuperação nas economias centrais;
Em relação à atividade econômica brasileira, indicadores divulgados desde a última reunião mostram novamente uma evolução moderadamente abaixo da esperada;
A inflação ao consumidor continua elevada. A alta dos preços foi acima da esperada, tanto nos componentes mais voláteis como também nos itens associados à inflação subjacente;
As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
As expectativas de inflação para 2021, 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 10,2%, 5,0% e 3,5%, respectivamente; e
No cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,65*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 10,2% para 2021, 4,7% para 2022 e 3,2% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 9,25% a.a. neste ano e para 11,75% a.a. durante 2022, terminando o ano em 11,25%, e reduz-se para 8,00% a.a. em 2023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 16,7% para 2021, 3,8% para 2022 e 5,2% para 2023. Adotam-se bandeira tarifária “escassez hídrica” em dezembro de 2021 e a hipótese de bandeira tarifária “vermelha patamar 2” em dezembro de 2022 e dezembro de 2023.
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.
Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico.
Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país.
Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevam o risco de desancoragem das expectativas de inflação, mantendo a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,50 ponto percentual, para 9,25% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2022 e 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
O Copom considera que, diante do aumento de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista. O Comitê irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fabio Kanczuk, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.
*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.