ROSANA HESSEL
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica da economia (Selic), em 0,75 ponto percentual, nesta quarta-feira (17/03) para 2,57% ao ano. Com isso, a autoridade monetária inicia um novo ciclo de alta nos juros básicos, que estavam em 2%, o menor patamar da história, desde agosto de 2020.
De acordo com o comunicado da autoridade monetária, a decisão foi unânime e o colegiado apontou fatores de risco para o cenário de inflação em ambas as direções.
A maioria das apostas do mercado era de um novo ciclo de normalização de juros, com alta da Selic de 0,50 ponto percentual nesta segunda reunião do ano do Copom e uma trajetória de alta até o fim do ano, devido ao aumento das pressões inflacionárias. A decisão de aumentar em 0,75 ponto acabou surpreendendo o mercado, mas ela foi antecipada pelo Blog em 25 de fevereiro em meio aos sinais de interferência do presidente Jair Bolsonaro na Petrobras que ajudaram na escalada recente do dólar, que chegou a encostar em R$ 6.
Em fevereiro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,86%, a maior alta para o mês desde 2016. No acumulado em 12 meses, chegou a 5,20%, sinalizando riscos para o cumprimento a meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) deste ano, de 3,75% anuais, com teto de 5,25%.
Diante da expectativa de retomada na alta da taxa Selic e com o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) mantendo os juros básicos por lá e sinalizando que eles devem se manter estáveis até 2023, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) subiu 2,22%, encerrando em 116.549 pontos e o dólar recuou 0,59%, para R$ 5,58.
Veja a íntegra da nota do Copom:
Em sua 237ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 2,75% a.a.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.
Por um lado, o agravamento da pandemia pode atrasar o processo de recuperação econômica, produzindo trajetória de inflação abaixo do esperado.
Por outro lado, um prolongamento das políticas fiscais de resposta à pandemia que piore a trajetória fiscal do país, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco. O risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.
O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual, para 2,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2021 e, principalmente, o de 2022.
Os membros do Copom consideram que o cenário atual já não prescreve um grau de estímulo extraordinário. O PIB encerrou 2020 com crescimento forte na margem, recuperando a maior parte da queda observada no primeiro semestre, e as expectativas de inflação passaram a se situar acima da meta no horizonte relevante de política monetária. Adicionalmente, houve elevação das projeções de inflação para níveis próximos ao limite superior da meta em 2021.
Por conseguinte, o Copom decidiu iniciar um processo de normalização parcial, reduzindo o grau extraordinário do estímulo monetário. Por todos os fatores enumerados anteriormente, o Comitê julgou adequado um ajuste de 0,75 ponto percentual na taxa Selic. Na avaliação do Comitê, uma estratégia de ajuste mais célere do grau de estímulo tem como benefício reduzir a probabilidade de não cumprimento da meta para a inflação deste ano, assim como manter a ancoragem das expectativas para horizontes mais longos. Além disso, o amplo conjunto de informações disponíveis para o Copom sugere que essa estratégia é compatível com o cumprimento da meta em 2022, mesmo em um cenário de aumento temporário do isolamento social.
Para a próxima reunião, a menos de uma mudança significativa nas projeções de inflação ou no balanço de riscos, o Comitê antevê a continuação do processo de normalização parcial do estímulo monetário com outro ajuste da mesma magnitude. O Copom ressalta que essa visão para a próxima reunião continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, e das projeções e expectativas de inflação.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fabio Kanczuk, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.