Na linguagem popular, o que se vê hoje no Ministério da Economia é um “barata-voa”. São tantas as propostas de medidas no sentido de amenizar os impactos do coronavírus na economia, que quase nada sai do campo das promessas. A percepção é de que o ministro Paulo Guedes não sabe o que fazer.
O sinal mais claro da incapacidade do Ministério da Economia em atender a urgência que a pandemia da Covid-19 pede foi a bizarra Medida Provisória 927, que previa a suspensão dos salários dos tralhadores por quatro meses sem que nenhuma compensação fosse dada a eles.
Num primeiro momento, o presidente Jair Bolsonaro elogiou a MP nas redes sociais. Mas a bordoada foi tamanha, que ele recuou, a ponto de revogar o documento. Para se justificar do erro crasso, Guedes disse que houve uma precipitação de sua equipe, que liberou a MP com erro de redação.
Descompasso
Desde então, a cada dia, a equipe econômica planta notícias de que está estudando isso, analisando aquilo. Já falou na possibilidade de o governo bancar 25% dos salários dos trabalhadores, depois 33%, 50% e, agora, já cogita 100% no caso daqueles que recebem até três salários mínimos (R$ 3.135).
Falou-se, também, que a suspensão dos salários será por dois meses e que a nova MP será editada até esta sexta-feira (27/03). Agora, o discurso é de que não há mais prazo para isso, porque ainda é preciso fechar as contas, submeter as propostas a Guedes e à Casa Civil e, por fim, ao presidente da República. Ou seja, o ministério se perdeu por completo.
Para não dizer que há exagero nas críticas de que o governo vem recebendo por causa da inação do Ministério da Economia, mais da metade do pacote de incentivos à economia, totalizando R$ 309 bilhões, está na promessa.
Pelos cálculos feitos pelo Estadão, de cada R$ 100 anunciados pelo governo para o enfrentamento da pandemia da Covid-19, R$ 63 não saíram do papel. Motivo: o governo simplesmente não encaminhou as propostas ao Congresso ou o Legislativo ainda não votou os projetos usados para acelerar as ações.
Discurso enviesado
Se o presidente Jair Bolsonaro está tão preocupado com os rumos da economia, a ponto de propor o fim do isolamento social imposto por estados e municípios, por que não cobra ações mais rápidas de sua equipe econômica? Mais: por que não arregimenta apoio no Parlamento?
Pode-se concluir, desse quadro desolador, que, além da ineficiência da equipe econômica, o Palácio do Planalto prefere ficar no discurso para animar as claques das redes sociais em vez de, efetivamente, tomar as providências que todos estão cobrando para evitar o colapso total da economia.
Brasília, 16h59min