Os últimos dois dias foram de questionamentos intensos ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. A pergunta que mais ouviu de interlocutores foi: até que ponto ele está disposto a substituir Paulo Guedes no comando do Ministério da Economia.
Desde sexta-feira, Campos Neto vem sendo apontado, dentro do governo, como futuro ministro da Economia. Há uma ala enorme no Palácio do Planalto que garante a saída de Guedes do cargo, mesmo que, publicamente, o presidente Jair Bolsonaro diga que o auxiliar segue firme no cargo.
A relação entre Bolsonaro e Guedes estremeceu a ponto de, na terça-feira à noite (11/08), o chefe do Executivo dizer que seu subordinado havia passado de todos os limites. O desabafo do presidente veio logo após a entrevista de Guedes dizendo que estava havendo uma debandada de sua equipe com as saídas de mais dois secretários: Salim Matar e Paulo Uebel.
O que realmente irritou o presidente foi o fato de o subordinado ter admitido a possibilidade de ele sofrer um processo de impeachment se continuar seguindo o conselho de ministros “fura-teto”, que estão doídos para ampliar as despesas públicas.
Bolsonaro considerou esse ponto da declaração de Guedes avassalador, sobretudo por pelo fato de o ministro estar, na hora da entrevista, ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que tem o poder de decisão sobre abertura de processos de impedimento do presidente.
Para Campos Neto, tudo é “plantação”
Discretíssimo, Campos Neto não quer entrar nesse debate. Classifica como “especulação e plantação” o uso de seu nome como possível sucessor de Guedes. O presidente do BC é extremamente leal ao chefe e acredita que Guedes está certíssimo em defender o teto de gastos. Isso é vital para que a inflação e os juros continuem baixos no país e a economia recupere as forças para crescer. Isso está claro nos documentos do Comitê de Política Monetária (Copom).
Sempre que se refere a Guedes, Campos Neto o faz com deferência. Ele costuma contar a interlocutores como foi nascendo o time que hoje comanda a economia brasileira. Alguns deles, como o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, faziam parte de um grupo liberal de São Paulo, que discutia os rumos do país. Depois, essa turma se juntou à ala do Rio de Janeiro tendo Paulo Guedes como ícone.
Aos mais chegados, Campos Neto diz que está muito satisfeito no comando do BC. E que ainda tem um trabalho enorme para tocar à frente da instituição, sobretudo no que se refere à modernização do sistema financeiro e à maior competição entre as instituições de mercado.
Mais: até agora, em nenhum momento, o presidente da República falou com Campos Neto, mesmo que de forma tergiversada, sobre a hipótese de ele ser deslocado para o Ministério da Economia. Portanto, na cabeça do presidente do BC, Paulo Guedes segue forte. E Bolsonaro está 100% fechado com o ministro.
Brasília, 18h29min